domingo, 19 de janeiro de 2014


19/01/2014 09h00 - Atualizado em 19/01/2014 09h00

Exploração da andiroba garante 



renda a 



pequenos agricultores do PA


Produto rende um óleo vegetal procurado por indústrias de cosméticos.
Exploração transformou a vida de pequenos produtores.

Do Globo Natureza, com informações do Globo Rural
Espalhada por 49 mil quilômetros quadrados, a Ilha do Marajó fica no norte do estado do Pará e é banhada pelo oceano Atlântico e por rios imensos, como o Amazonas. A paisagem combina áreas de mata fechada, com campos, várzeas e alagados; fazendas antigas e muitos rebanhos de búfalos.
No litoral do município de Salvaterra, no leste da ilha, os moradores vivem principalmente da pesca, de pequenos roçados e do aproveitamento da andiroba, uma semente da floresta que vem ganhando importância nos últimos anos. O produto rende um óleo vegetal procurado por indústrias de cosméticos.
A exploração da andiroba é ligada não apenas às florestas, mas também aos rios, lagos e igarapés. O aproveitamento tradicional depende inclusive do movimento das marés. Com nome científico carapa guianensis, a andirobeira cresce bem em terra firme, mas também gosta de baixadas e áreas alagadiças.
Um dos líderes do trabalho com a andiroba no município é João dos Anjos. Ele explica que rios da região são muito influenciados pelo sobe e desce das marés. O leito do Paracauari, por exemplo, aumenta bastante na maré cheia e as águas acabam invadindo a floresta duas vezes por dia.
No leito do Paracauari, uma grande quantidade de galhos, folhas e frutos é carregada pelas águas, inclusive as sementes de andiroba, também conhecidas como castanhas. O produto vai sendo levado pela correnteza até a boca do rio, em uma viagem lenta e constante em direção ao mar.
Depois de flutuar por várias horas, dias, às vezes até semanas, as castanhas de andiroba acabam chegando em praias. É justamente em lugares assim, à beira mar, que as famílias da região fazem a coleta do produto. O serviço não tem dificuldade. Nos meses de safra, entre fevereiro e junho, as praias da região ficam cheias de gente.
A virada começou em 2006, quando ribeirinhos fundaram uma cooperativa para vender a produção em conjunto. Nessa época, uma indústria produtora da óleos começou a comprar a andiroba em quantidade e de maneira regular.
Os cooperados instalaram uma mini-agroindústria que está começando a produzir o óleo da andiroba. Especialista no assunto, João dos Anjos explica que o óleo é mais valioso do que as sementes e também tem mercado garantido.
Na comunidade de Monte Alegre, município de Bragança, nordeste do Pará, a maior parte das famílias trabalha em sítios pequenos e com agricultura variada. O problema é que a vida na roça sempre foi dura. Além de ganhar pouco com os cultivos, os agricultores não sabiam aproveitar os recursos da floresta.  Aliás, a mata era vista como problema.
A mudança de postura é o resultado de um projeto que se baseia principalmente no aproveitamento de um fruto produzido por uma palmeira da floresta: o murumuru, muito utilizado na produção de sabonetes e hidratantes.
O trabalho envolve diversas entidades. Um dos líderes é o padre Nelson Magalhães, que coordena a Cáritas local, um órgão de ação social ligado à Igreja Católica. “Fomos reunindo com as comunidades, buscando qual é a produção que tem na floresta e, ao mesmo tempo, dialogando com as empresas que estão em busca do produto. Se não tiver quem compre também não tem incentivo para conservar produzir ou para juntar semente.”
Hoje, a coleta do murumuru já faz parte da rotina de dezenas de famílias da região. A palmeira dá frutos o ano todo, mas a produção fica mais forte entre abril e agosto. Na comunidade, a coleta do murumuru é uma atividade planejada e coletiva, feita em grupo. Os agricultores se reúnem uma vez por semana e vão todos juntos para fazer a coleta na floresta.
A coleta na mata ocorre num clima animado. Apesar da descontração, o trabalho também é cansativo. Na mata, a temperatura fica quase sempre acima de 30ºC, a umidade do ar passa de 80% e não falta bicho venenoso. Outro perigo são os espinhos que revestem o tronco e as folhas do murumuru.
Saindo da mata, os frutos são levados para os sítios, onde ocorre um primeiro beneficiamento. Na propriedade da família do Carmo, um sítio de 18 hectares, com várias casinhas, primeiro se espalha o murumuru numa lona plástica. Depois de uns dez dias secando, a polpa se desfaz e o que sobra são as sementes. A etapa seguinte é a quebra. O objetivo é retirar a  amêndoa do murumuru que fica dentro da semente.
Para vender melhor a produção, os agricultores de Bragança também formaram uma cooperativa. Além de vender a matéria prima, a cooperativa também começou a investir na fabricação artesanal de cosméticos. Os agricultores fizeram cursos, oferecidos pela indústria compradora, por uma ONG da Alemanha e também pelo Sebrae – o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.  Os itens mais fabricados são cremes e óleos hidratantes.
A venda de sementes, amêndoas, frutos e também dos cosméticos acaba funcionando como um complemento de renda importante para as famílias.
Apesar do crescente aumento no consumo de perfumes e cosméticos, o aproveitamento de matérias-primas da Amazônia ainda é pequeno. Mas projetos como esses, que acabamos de mostrar, comprovam que a exploração de espécies nativas tem muito a crescer.

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