domingo, 19 de janeiro de 2014


19/01/2014 07h00 - Atualizado em 19/01/2014 07h00

Zoóloga acompanha cotidiano de 



preguiças órfãs na Costa Rica


Do trabalho, resultaram vídeos para internet, um livro e um programa de TV.
Objetivo foi valorizar o ‘animal mais mal compreendido’ do planeta.

Do G1, em São Paulo

A zoóloga Lucy Cook acompanhou as preguiças para fazer um documentário e escrever um livro (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)A zoóloga Lucy Cook acompanhou as preguiças para fazer um documentário e escrever um livro (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)
Com o objetivo de mostrar ao mundo que as preguiças não são animais folgados, como muitos pensam, a zoóloga Lucy Cook partiu do Reino Unido há cinco anos rumo à Costa Rica, onde descobriu que havia um santuário dedicado exclusivamente aos cuidados de bebês-preguiça órfãos. "Eu sabia que tinha de ir pra lá e que seria um lugar extraordinário", disse Lucy, em entrevista por e-mail ao G1.
 “Sou atraída por animais que são mal compreendidos e a preguiça é um dos animais mais mal compreendidos no planeta”, explicou. “Muitos pensam que elas são preguiçosas e burras, mas elas são perfeitamente adaptadas a seu estilo de vida e, de fato, incrivelmente bem-sucedidas. Eu queria contar a história delas e ensinar ao mundo que ser rápido é superestimado.”
Depois da primeira visita ao local, ela voltou outras cinco vezes ao longo de dois anos para filmar o desenvolvimento dos filhotes e pesquisar sobre as preguiças para um livro, publicado no Brasil em novembro passado com o título “O livrinho da preguiça”, pela editora Nossa Cultura. Os vídeos que ela publicou na internet em seguida tiveram milhares de acessos logo nos primeiros dias.
Mateus foi fotografado enquanto abraçava ursinho de pelúcia (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)Mateus foi fotografado enquanto abraçava ursinho
(Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)
Fofura
Ela atribuiu o sucesso à “fofura” dos animais. Em uma das cenas, uma preguiça cai no sono no meio de uma refeição. Em outra, dois bebês-preguiça travam uma morosa disputa por uma vagem. “Sempre fui fascinada por preguiças. Eu amo sua biologia excêntrica, seus sorrisos meigos e o fato de que elas são programadas geneticamente para abraçar.”
Os vídeos resultaram em um documentário premiado, que deu origem a uma série que estreou em novembro no canal Animal Planet chamada “Meet the Sloths” (ou “Conheça as Preguiças”). Toda essa atenção, segundo Lucy, tem ajudado a arrecadar dinheiro para a preservação das preguiças.
Lucy conta que o santuário da Costa Rica foi fundado há cerca de 20 anos pela americana Judy Arroyo. Moradora do sul da Costa Rica, ela recebeu um bebê-preguiça órfão, trazido por crianças da vizinhança. Desde então, a notícia de que ela cuidava de preguiças órfãs se espalhou e hoje o santuário cuida de cerca de 150 animais.
Tipos de preguiças
A zoóloga explica que existem basicamente duas famílias de preguiças: os Bradypus e osCholoepus. Enquanto os Bradypus, ou preguiças-de-três-dedos, “parecem usar óculos escuros, têm cabelo tigelinha e sorriso de Monalisa”, os Choloepus têm apenas dois dedos e “parecem mais o cruzamento entre um porquinho e o Chewbacca, de Guerra nas Estrelas”.
Elas comem principalmente folhas e vivem em árvores na América Central e América do Sul. Sendo tão lentas, a principal arma que usam para se proteger dos predadores é a camuflagem. “Os pelos de uma preguiça são basicamente uma minifloresta que abriga não apenas algas, mas muitas espécies de insetos, incluindo uma mariposa que vive exclusivamente nas preguiças”, conta Lucy. “Elas não têm odor natural no corpo, então têm aparência e cheiro exatamente iguais aos de uma árvore.” Seu predador número um é o gavião-real, ou harpia.
Leia, a seguir, alguns trechos da entrevista de Lucy, em que ela conta mais curiosidades sobre a biologia das preguiças e sobre seu interesse pelas preguiças brasileiras:
Lucy também registrou o banho das preguiças (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)Lucy também registrou o banho das preguiças (Foto:
Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)
Afinal, por que as preguiças são tão lentas?
Preguiças realmente são lentas e gostam de levar a vida numa boa. A chave de sua natureza preguiçosa é sua dieta, que consiste principalmente de folhas tóxicas que levam muito tempo para digerir e fornecem pouca energia. A preguiça leva um mês inteiro para digerir uma única folha. Se elas digerissem mais rápido, elas poderiam literalmente se envenenar.
Elas são atletas da digestão! Então, enquanto estão dormindo, elas não estão sendo folgadas, mas trabalhando arduamente na digestão de sua comida
Os filhotes vivem abraçados às suas mães. Por que?
Bebês-preguiça, assim como a maioria dos bebês mamíferos, dependem de suas mães para obter leite e proteção pelos primeiros meses de sua vida. Como vivem em árvores, os bebês têm de aprender a segurar firme para não cair.
Capa do livro lançado por Lucy Cook no Brasil em novembro (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)'O livrinho da preguiça' foi lançado no Brasil em 2013
(Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)
Por que preguiças não podem ser animais de estimação?
As preguiças selvagens são animais solitários que ocupam um território surpreendentemente grande. Elas gostam de perambular livres de árvore em árvore e apenas se conectam com outras preguiças para acasalar. Elas não gostam de companhia e não gostam de ser acariciadas por humanos.
A vida em cativeiro para um animal selvagem como esse é muito triste. Além disso, elas têm uma biologia muito delicada e são muito agitadas para comer e muito difíceis de serem mantidas vivas. Muitas morrem em cativeiro de doenças misteriosas. Elas também vivem por 30 anos, muito mais do que gatos ou cachorros. Manter uma preguiça viva pode ser um trabalho para a vida inteira!
Quando voltou para casa após a temporada na Costa Rica, você ficou com saudades?
Sim, eu fiquei com saudade das preguiças! Eu tento visitar santuários de preguiças em outros países sempre que eu posso. Eu passei um tempo recentemente em um santuário para preguiças na Colômbia e, no Brasil, espero visitar um que fica nos arredores de Ilhéus, na Bahia, que resgata e protege a espécie Bradypus torquatus que está em perigo, é extremamente especial e somente encontrada no Brasil.
Por que você acha que as pessoas gostam tanto dos seus vídeos?
Eu acho que as preguiças fazem as pessoas felizes. Elas têm rostos tão doces e elas são criaturas tão gentis. Além disso, gostam de dormir muito. E quem não gosta de passar o dia tirando soneca? Eu acho que existe um pouco de preguiça em cada um de nós.
O que você acha que as preguiças podem nos ensinar?
Eu acho que preguiças podem nos ensinar que a rapidez é superestimada. A preguiça é lenta e muito bem-sucedida, então nós também deveríamos desacelerar e tentar de verdade estar em harmonia com a natureza.
Hábitos lentos de preguiças têm a ver com sua digestão, segundo zoóloga (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)Hábitos lentos de preguiças têm a ver com sua digestão, segundo zoóloga (Foto: Lucy Cook/Editora Nossa Cultura/Divulgação)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário