Por que às vezes vemos sombras flutuando em nossos olhos?
- 8 fevereiro 2016
Você talvez não saiba o nome oficial, mas já deve ter visto pequenas formas flutuando em seu campo de visão.
A percepção dessas formas, também conhecidas como moscas volantes (do latim Muscae volitantes) ou floaters (flutuadores, em inglês), é chamada miodesopsia. Elas podem aparecer como pontos escuros, filamentos ou teias – e não são ilusões de ótica. Estão lá, vagando dentro de seus olhos.
Para entender a origem dessas "moscas", vale relembrar um pouco de anatomia ocular. Na parte da frente do olho fica a córnea (um tecido transparente), e atrás você tem a pupila (o centro escuro do olho) e a íris (a franja colorida ao redor da pupila). Entre a córnea e a pupila há um pequeno reservatório de líquido chamado humor aquoso.
Uma camada de células sensíveis à luz no fundo de seu olho é chamada retina. Quando os neurônios que formam a retina são estimulados pela luz, eles enviam uma mensagem pelo nervo ótico até o cérebro, entregando informações sobre o que você está vendo. Mas entre as lentes e a retina há um "oceano" de líquido conhecido como humor vítreo ou apenas vítreo.
O vítreo é uma massa gelatinosa formada principalmente por água. Diferentemente do humor aquoso, o humor vítreo nunca é reabastecido. Você irá morrer, basicamente, com o mesmo vítreo com o qual nasceu.
Isso significa que se algum objeto externo entrar no vítreo (sangue ou outras células, por exemplo), ele irá ficar por lá. E quando esses pequenos pedaços de detritos oculares tampam a passagem da luz pelo olho, eles podem lançar sombras na retina.
Essas são as sombras que percebemos como as moscas volantes.
Ao envelhecermos, parte dessa substância gelatinosa vai se tornando mais líquida. E quando isso ocorre, pequenos sólidos que vagam pelo vítreo podem se agrupar. Eles também projetam pequenas sombras na retina, também visualizadas como as famosas moscas volantes.
Trata-se de um fenômeno comum, se considerarmos relatos de técnicos em optometria. Um estudo no Reino Unido apontou, por exemplo, que cada optometrista recebe, em média, 14 pacientes por mês reclamando dessa situação.
Outra pesquisa usou um aplicativo de celular para verificar a incidência do fenômeno entre a população em geral. De 603 usuários, 446 (74%) reportaram essa característica na visão, mas apenas um terço reclamou sobre problemas relacionados na vista.
Tratamentos polêmicos
Para outras pessoas, o fenômeno pode trazer preocupações e danos, ou ser um prenúncio de problemas futuros. A aparição repentina e intensa de sombras na visão de pessoas idosas, por exemplo, pode indicar algo chamado descolamento do vítreo, a separação do vítreo da retina. Isso pode gerar rasgos na retina e, eventualmente, cegueira.
Um estudo recente na revista da Associação Médica Americana indicou que pacientes com um quadro grave de sombras encaminhados a oftalmologistas tinham 14% de chance de ter rasgos na retina. É um índice alto, que indica a necessidade de avaliação oftalmológica urgente.
Apesar de a condição não ser problemática para a maioria das pessoas, uma pesquisa rápida na internet revela uma infinidade de ideias de tratamento, que vão do absurdo (yoga) ao aceitável, mas invasivo (cirurgia).
Particularmente preocupantes são as opções de tratamento que parecem aceitáveis, como o uso do chamado YAG laser, ferramenta que se tornou comum em oftalmologia, mas que ainda não tem comprovação prática suficiente nem aprovação pelas autoridades sanitárias nos EUA.
Como o fenômeno desaparece ou se torna tolerável na maioria dos casos, pesquisadores e médicos costumam considerá-lo como benigno.
Nesse sentido, os pesquisadores David Sendrowski e Mark Bronstein escreveram na revista científica Optometry que há "pouca pesquisa clínica" dedicada a investigar o uso potencial de YAG laser para essa condição, enquanto outros estudos consideram ser uma opção segura que causou apenas melhora moderada – e limitada a um terço dos pacientes.
Um procedimento mais aceito para pacientes com visão prejudicada pelas sombras é a chamada vitrectomia, a substituição do humor vítreo por uma solução salina. As vitrectomias pressupõem riscos, como danos à retina e cataratas, e normalmente são tidas como uma última opção para casos extremos de perturbação da visão.
Em geral, afirmam Sendrowski e Bronstein, o procedimento mais convencional para lidar com essa condição envolve apenas tranquilidade e educação.
Um estudo de 2012 feito por pesquisadores italianos minimiza esse ponto: muitos consideram as sombras mais como um incômodo do que algo que demande tratamento. A maior parte das pessoas pode notar essas formas de vez em quando, sobretudo ao encarar um céu aberto – até que desapareçam de nossa visão e atenção.
- Leia a versão original desta reportagem em inglês no site da BBC Future.
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