quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sabonetes, xampus e gel podem fazer mal à pele?

  • Há 6 horas
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Image captionDetergente LSS, presente em alguns produtos, pode acelerar perda de líquido pela pele
Muitos de nós removemos óleos, gordura e sujeira de nossa pele até três vezes por dia, graça ao uso de xampus e sabonetes.
E, quando saímos do chuveiro, substituímos óleos e gorduras com cremes hidratantes. Seria esse um ciclo vicioso de falta de lógica e que pode fazer mal para nós?
Hidratantes, xampus e géis de banho, assim como muitos produtos de higiene que temos em casa, contêm detergentes. Esses componentes químicos não apenas nos ajudam a remover oleosidades e sujeiras de nossa pele como também são usados para estabilizar as misturas em produtos de limpeza e mantê-los em forma cremosa.
Mas o professor Richard Guy, do Departamento de Farmácia e Farmacologia da Universidade de Bath, descobriu que um desses detergentes, o lauril sulfato de sódio (LSS), pode causar irritações severas na pele e até mesmo afetar suas funções.

Desidratação

A pesquisa de Guy segue uma série de estudos que descobriram que um tipo de creme emoliente usado no Reino Unido para tratar eczema, o Aqueous Cream BP, piorou a condição em usuários.
O LSS foi identificado como o agente químico responsável pela irritação causada pelo produto e os estudos levaram autoridades médicas no Reino Unido a desaconselhar o uso do creme no tratamento de eczemas.
A BBC fez um teste com LSS usando como cobaia outro professor de medicina da Universidade de Bath, Chris Van Tulleken. Durante três semanas e por seis horas diárias, ele manteve uma quantidade de LSS em contato com sua pele, em concentração menor que a encontrada nos produtos de higiene atuais.
Guy mediu a taxa de perda de água pela pele antes e depois do experimento. Isso é uma medida confiável da eficácia da pele como uma barreira - uma perda excessiva de água sugere que há danos à superfície da derme.
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Image captionO LSS pode reduzir resistência a alergênicos
Ao final do experimento, a perda de hidratação pela pele de Van Tulleken tinha mais que triplicado: de 9g de água por metro quadrado de pele por hora, ele passou a perder 33 gramas. Para Guy, a perda de água foi o equivalente à destruição de metade de uma camada de pele.
O LSS, segundo cientistas, irrita a pele ao perturbar os óleos naturais que mantêm a integridade do tecido. Não apenas causa danos diretos, mas também reduz a habilidade da pele de proteger o organismo de alergênicos, incluindo o próprio LSS.
Van Tulleken também testou o segundo estágio de nossa rotina de higiene: o uso de hidratante.
O experimento analisou os efeitos do hidratante após lavar a pele com sabão e os efeitos apenas com sabão. Quando a perde de água pela pele foi analisada, não houve diferenças. Isso sugere que o hidratante não trouxe benefícios para a pele do médico.
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Image captionMercado tem produtos sem LSS
Quase todos os produtos para a pele, incluindo hidratantes, contêm algum tipo de detergente - mesmo que não sejam tão poderosos e danosos como o LSS. Pessoas com pele sensível ou com tendência para eczemas podem ficar melhor com menos exposição ao LSS. A recomendação é procurar no mercado produtos que não tenham este detergente em sua fórmula.
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160218_sabonete_estudo_mal_pele_fd 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

'Como descobri que um rio fervente da Amazônia não era uma lenda'

  • 16 fevereiro 2016
Devlin GandyImage copyrightDEVLIN GANDY
Image captionTemperatura média do rio fica pouco abaixo do ponto de ebulição
O peruano Andrés Ruzo sempre pensou que a existência de um rio fervente na Amazônia não passasse de uma lenda.Mas seu trabalho como geólogo – com uma bolsa da sociedade National Geographic – o levou a conhecer de fato essa maravilha natural peruana, aonde ele "gostaria de levar todas as crianças do mundo para que vejam o quão maravilhoso é nosso planeta".Agora, ele lança um livro, "The Boiling River" (O rio fervente, em inglês), assim como um site de mesmo nome, em inglês e espanhol, em que conta a fascinante história sobre esse lugar único cujo nome indígena significa "fervido com o calor do sol".Leia a seguir o relato dado pelo jovem cientista à BBC Mundo:
"Quando era criança, em Lima, meu avô me contou uma lenda da conquista do Peru pela Espanha.
Atahualpa, imperador dos incas, havia sido capturado e aniquilado. Francisco Pizarro e seus conquistadores haviam enriquecido, e as histórias sobre sua conquista haviam chegado à Espanha, produzindo novas ondas (migratórias) de espanhóis, ávidos por ouro e glória.
Eles iam aos povoados e perguntavam aos incas: 'Onde há outra civilização que podemos conquistar? Onde há mais ouro?'.
Os incas, para vingarem-se, respondiam: 'Vão à Amazônia. Lá, encontrarão todo o ouro que quiserem. De fato, há uma cidade chamada Paititi – El Dorado, em espanhol – toda feita em ouro'.
Os espanhóis foram para a selva, mas os poucos que voltaram contavam histórias de poderosos xamãs, de guerreiros com flechas envenenadas, de árvores tão altas que tapavam o sol, de aranhas que comiam pássaros, cobras que comiam homens inteiros e de um rio que fervia.
Guida GastelumendiImage copyrightGUIDA GASTELUMENDI
Image captionLenda levou a investigação científica
Tudo isso virou uma memória de infância – e os anos se passaram.
Enquanto trabalhava em seu doutorado, tratando de entender o potencial da energia geotérmica do Peru, lembrei-me desta lenda e me perguntei: Será que o rio fervente existe?
Perguntei a colegas da universidade, ao governo, a companhias de petróleo, gás e mineração, e a resposta sempre foi um unânime 'não'.
E faz sentido. É que, ainda que existam rios ferventes no mundo, geralmente estão associados a vulcões. É necessária uma fonte poderosa de calor para produzir uma manifestação geotérmica tão grande.
Mas não há vulcões na Amazônia, nem na maior parte do Peru. Consequentemente, não deveria haver um rio fervente ali.
Quando estava contando essa mesma história em um jantar de família, minha tia me disse: 'Não, Andrés, já estive lá. Eu me banhei neste rio'.
E meu tio me confirmou: 'Não é mentira. Só é possível nadar nele depois de uma chuva forte, e está protegido por um poderoso xamã'.
Apesar do meu ceticismo científico, terminei entrando na selva, guiado pela minha tia, a mais de 700 km do centro vulcânico mais próximo e, honestamente, preparando-me mentalmente para ver a lendária 'corrente quente da Amazônia'.
E então... escutei algo. Um som de ondas que ficava cada vez mais forte conforme nos aproximávamos. Soava como as ondas do mar se quebrando e, ao chegar perto, vi um vapor elevando-se entre as árvores. Em seguida, me deparei com esta cena:
Sofia RuzoImage copyrightSOFIA RUZO
Image captionMedições mostraram que água esquenta e esfria diversas vezes ao longo do percurso do rio
Saquei imediatamente meu termômetro, e a temperatura média da água do rio era de 86ºC... não precisamente os 100ºC do ponto de ebulição, mas suficientemente próximo. O rio corria quente e rapidamente. E isso era estranho.
O aprendiz do xamã me levou rio acima a um lugar mais sagrado. Começa como um córrego frio. Logo, em um local chamado de Yacumama, nome da mãe das águas – o espírito de uma serpente gigante que dá à luz água fria e quente –, está a corrente quente que se mistura com a fria, dando vida a suas lendas.
Na manhã seguinte, acordei e pedi um chá. Entregaram-me um saco de chá e uma xícara com água do rio. Para minha surpresa, era limpa e seu sabor, agradável, algo pouco comum nos sistemas geotérmicos.
O assombroso é que os locais conheciam este lugar desde sempre e que eu não era de forma alguma o primeiro forasteiro a vê-lo. O rio é simplesmente parte de seu cotidiano. Tomam sua água, aproveitam seu vapor, cozinham, se limpam e até tomam seus remédios com ele.
Devlin GandyImage copyrightDEVLIN GANDY
Image captionGeólogo precisou de bênção de xamã para estudar rio fervente
Quando conheci o xamã, ele me pareceu ser uma extensão do rio e da selva. Perguntou-me qual eram minhas intenções e escutou-me com atenção. Logo, para meu grande alívio, um sorriso começou a se desenhar no seu rosto, e ele simplesmente riu.
Recebi sua bênção para estudar o rio com a condição de que, depois de analisar as amostras em meu laboratório, as jogasse na terra, onde quiser que estivesse, para que as águas pudessem encontrar seu caminho de volta para seu lar.
O nome indígena do rio, Shanay-timpishka, significa 'fervido com o calor do sol', o que indica que não sou o primeiro a me perguntar por que o rio ferve e mostra que a humanidade sempre busca explicar o mundo que nos rodeia. Então, por que ele ferve?
Assim como nós temos sangue quente correndo por nossas veias e artérias, a Terra tem água quente correndo por suas rachaduras e falhas. Quando chegam à superfície, produzem manifestações geotérmicas: torres de vapor, águas termais ou, neste caso, um rio fervente.
O que realmente é incrível, no entanto, é a escala do local. O rio flui quente por 6,24 km e, ao longo da maioria desse percurso, é mais largo que uma rodovia. Tem piscinas termais e cascatas de mais de seis metros de altura... tudo com água quase fervendo.
Sofia RuzoImage copyrightSOFIA RUZO
Image captionRio faz parte do cotidiano das comunidades locais
Quando mapeamos as temperaturas ao longo do rio, surgiu uma tendência curiosa. O rio começa frio, depois esquenta, volta a esfriar e esquenta novamente, daí sua temperatura baixa mais uma vez e sobe de novo, e finalmente começa a cair até desembocar em outro rio.
O número mágico é 47... porque, a 47ºC, (o calor) começa a machucar, e sei disso por experiência própria. Acima desta temperatura, é preciso tomar cuidado, pois pode ser mortal.
Vi todo tipo de animal cair nele, e o que mais me impressiona é que o processo é sempre muito parecido. Primeiro, perdem os olhos, que, aparentemente, cozinham muito rápido, adquirindo uma cor esbranquiçada.
A corrente os vai levando, e eles tentam nadar para sair do rio, mas sua carne está cozinhando, pois é muito quente. Assim, vão perdendo as forças até que, finalmente, chega o momento em que a água quente entra na sua boca e os cozinha por dentro. Um pouco sádico, não?
Sofia RuzoImage copyrightSOFIA RUZO
Image captionTrabalho mostrou que se trata de fenômeno único
De novo, suas temperaturas são o mais impressionante. São similares à de outros vulcões que vi no mundo todo, inclusive de supervulcões, como Yellowstone.
A questão é que essa informação nos mostra que um rio fervente pode existir independentemente de vulcões. Sua origem não é ligada ao magma. Como isso é possível?
Por anos, tenho questionado especialistas em geotermia e vulcanólogos e ainda não consegui encontrar um sistema geotérmico não-vulcânico dessa magnitude.
É algo único. É especial em escala global. De onde vem seu calor?
Ainda será preciso investigar muito para entender melhor, mas, segundo a informação que coletamos, parece ser resultado de um grande sistema hidrotérmico.
A água pode vir das geleiras dos Andes e, após ser filtrada nas profundezas da Terra, brota fervendo, aquecida pelo gradiente geotérmico, tudo graças a uma situação geológica única.
Trabalhando com meus colegas Spencer Wells, da National Geographic, e Jon Eisen, da Universidade da Califórnia, sequenciamos geneticamente os organismos extremófilos, que sobrevivem ou requerem condições geoquímicas extremas, dentro e ao redor do rio e encontramos novas espécies.
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Image captionMeta de geólogo é que singularidade do rio seja reconhecida
No entanto, apesar de tantos estudos e todas descobertas e lendas, ficam as perguntas: Qual é o significado do rio fervente? Qual é a transcendência dessa nuvem estacionária que flutua sobre este pedaço da selva? Qual é a importância de um detalhe em uma lenda da infância?
Para o xamã e sua comunidade, é um lugar sagrado. Para mim, como geocientista, é um fenômeno único. Mas, para os lenhadores ilegais e pecuaristas, é apenas outro recurso a ser explorado. E, para o governo peruano, é outro território desprotegido, pronto para ser desenvolvido.
Minha meta é garantir que quem controle esta terra compreenda o significado e a singularidade do rio fervente. Porque disso se trata, de significado. E nós definimos o significado. Temos esse poder.
Somos nós que traçamos a linha entre o sagrado e o trivial. E, nesta época em que tudo parece estar mapeado, medido e estudado, nesta era da informação, os recordo que as descobertas não só se fazem no vazio negro do desconhecido, mas também em meio ao ruído branco gerado pela imensa quantidade de dados.
Há muito a se explorar. Vivemos em um mundo incrível. Então, seja curioso."
Image copyrightSOFIA RUZO
Image captionAndré Ruzo realizou um trabalho em conjunto com outros cientistas para desvendar rio fervente
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160215_rio_fervente_amazonia_relato_rb 

Cientistas descobrem flor ‘intacta’ em fóssil de 15 milhões de anos

  • 16 fevereiro 2016
George Poinar
Image captionAs flores datam do fim do período cretáceo
Pesquisadores da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, descreveram uma nova espécie de planta graças à descoberta de flores fossilizadas dentro de pedaços de âmbar que têm pelo menos 15 milhões de anos.
As duas flores estavam entre os 500 fósseis coletados em uma expedição realizada em 1986 pelo professor George Poinar, um famoso entomologista.
A maioria das amostras coletadas era de insetos mas, depois de quase 30 anos de pesquisas, o professor começou a analisar as flores.
Poinar percebeu que elas estavam praticamente intactas, algo muito difícil de acontecer com plantas presas em âmbar: geralmente sobram apenas fragmentos.
Em 2015, Poinar enviou fotos em alta resolução para Lena Struwe, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey.
"Parecia que essas flores tinham acabado de cair de uma árvore. Pensei que poderiam ser flores Strychnos", disse Pionar.
Ao receber as amostras presas em âmbar, Struwe comparou a estrutura física de todas as 200 flores conhecidas da espécie Strychnos, analisando coleções inteiras de muitos museus e acervos. E comprovou a descoberta do colega.
A professora disse que as características usadas para identificar espécies deStrychnos estão na morfologia da flor, e "por sorte era o que encontramos nesse fóssil".
"Analisei cada amostra de espécie do Novo Mundo, fotografei e medi e comparei com a foto que George me mandou e me perguntei: 'Como são os pelos nas pétalas? Onde eles estão situados?', e assim por diante."
A descoberta foi divulgada na revista especializada Nature Plants.

Veneno

Foto: George Poinar
Image captionAs flores estavam incrivelmente bem conservadas, o que facilitou seu estudo
A nova planta, batizada de Strychnos electri, pertence ao gênero de arbustos tropicais e árvores conhecidos por produzir a toxina estricnina.
E, para os animais do fim do período cretáceo que conviveram com ela, a planta era um perigo a mais.
"Espécies do gênero Strychnos são quase todas tóxicas de alguma forma", explicou George Poinar.
"Cada planta tem seus próprios alcaloides com efeitos variados. Algumas são mais tóxicas que outras e pode ser que tenham sido bem-sucedidas porque seus venenos ofereciam algum tipo de defesa contra os animais herbívoros", acrescentou.
O mais famoso desses alcaloides, a estricnina, é uma toxina usada como base de muitos venenos contra ratos.
E também é citada em muitos trabalhos de ficção, como o filme Psicose, de Alfred Hitchcock. A estricnina era uma das armas do personagem de Norman Bates.
Mas essas plantas também são da família das "asterídeas", que inclui mais de 80 mil plantas floríferas - até mesmo muitas que são de consumo humano, como a batata, o café e o girassol.
A descoberta destas flores quase intactas e tão antigas é mais um elemento muito importante ao registro de fósseis dessa família, que ainda não é totalmente compreendida pelos cientistas.
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160216_flor_fossil_descoberta_fn