Em busca do ser vivo mais velho do mundo
As efêmeras, insetos semelhantes a pequenas libélulas, vivem por apenas um dia; os humanos podem chegar, com sorte, a um século de vida. Mas qual é o organismo vivo mais velho do mundo? Para cientistas, essa tarefa, de tentar precisar a idade de espécies longevas, é um desafio.
Sob os galhos de uma castanheira de 300 anos no Jardim Botânico Real em Londres, o diretor do local, Tony Kirkham, diz que as árvores são capazes de viver mais que animais mas que é preciso um trabalho de detetive para encontrar as mais velhas e estimar sua idade.
"Primeiro, podemos olhar registros antigos para descobrir se uma árvore estava plantada lá numa determinada data. Então, olhamos para pinturas e outros trabalhos de arte para ver se a árvore já estava presente. E alguns mapas antigos também podem claramente mostrar as árvores do local, especialmente as importantes".
Uma maneira conhecida de definir a idade de uma árvore é contar o número de anéis no núcleo do tronco: há um anel por ano de crescimento. É um processo conhecido como dendrocronologia e só funciona para certos tipos de árvore - as que têm um crescimento anual acelerado.
O problema óbvio é que contar os anéis geralmente envolve cortar a árvore. Arboricultores contornam esse problema usando um tipo de furadeira que permite remover parte do núcleo para contar os anéis sem levar a árvore à morte.
É uma arte delicada; Tony conta um caso ocorrido nos anos 60, quando a broca de um cientista quebrou dentro de um pinheiro do tipo bristlecone do qual queria retirar uma amostra.
O equipamento é caro, e para ajudá-lo a recuperar o instrumento perdido, um guarda-florestal cortou a árvore. Uma vez derrubada, a árvore pôde ser facilmente analisada: tinha 5 mil anos.
"Foi terrível, mas muitos achados científicos foram possíveis graças àquela oportunidade, e desde então, encontramos árvores que são tão velhas quanto, se não mais velhas", admite Tony.
Uma equipe de pesquisadores americanos mantém uma lista, chamada Lista Velha, de árvores antigas oficialmente datadas. Entre elas, está uma figueira sagrada no Sri Lanka que tem pelo menos 2.222 anos, e um cipreste-da-patagônia, no Chile, com 3.627 anos - é tão velho quanto os monumentos pré-históricos de Stonehenge, na Inglaterra.
Um pinheiro bristlecone batizado de Matusalém, encontrado nas montanhas da Grande Bacia, na Califórnia, nos EUA, tem 4.850 anos. Mas a árvore mais velha da lista, um pinheiro da mesma espécie na mesma localidade, ainda não batizado, tem um núcleo sugerindo uma idade de 5.067 anos.
A árvore, desgastada pelo tempo, viveu a ascensão e a queda do Império Romano. Já estava lá quando os egípcios antigos começaram a construção das pirâmides.
Mas será este pinheiro de mais de 5 mil anos o organismo individual mais velho do planeta? Isto depende da definição de "organismo individual".
No Parque Nacional de Fishlake, em Utah, nos EUA, vivem álamos-trêmulos que muitos teriam dificuldade de enxergar como uma única árvore. Trata-se de uma colônia clonal, ou seja, um grupo de árvores geneticamente idênticas.
É tão grande que parece uma floresta. Mas mesmo sendo do tamanho do Vaticano, a colônia, conhecida como "Pando", latim para "eu me espalho", começou de uma única semente, e, ao longo dos anos, se estendeu por 50 mil troncos de árvores.
É difícil estimar sua idade exata, diz a geneticista de população Karen Mock, da Universidade do Estado de Utah, que trabalha no local. "Houve várias estimativas, mas o problema é que a árvore original muito provavelmente não está mais lá", contou ela à BBC.
As árvores clonais crescem em todas as direções e se regeneram ao longo do tempo. Isto significa que tirar o núcleo de um trono não dará a idade da colônia.
Cientistas tentam contornar o problema equiparando tamanho com idade. É um processo impreciso, por isso a estimativa da idade de Pando vai de poucos milhares de anos a 80 mil anos.
A professora Mock espera que uma nova técnica, de investigar quantas mutações de DNA são acumuladas ao longo do tempo, traga uma alternativa para definir a idade dessa árvore memorável.
Se uma árvore pode viver 80 mil anos, por que parar aí? Há algum organismo imortal na Terra? Não, de acordo com o especialista em envelhecimento João Pedro de Magalhães, da Universidade de Liverpool.
"Todos os organismos podem morrer, então não há uma espécie imortal per se", diz.
"Mas você tem espécies vertebradas complexas que parecem não envelhecer, como as tartarugas das Ilhas de Galápagos (Equador) ou uma salamandra das cavernas chamada Olm. Eu digo 'parecem não envelhecer'; não estudamos nenhuma dessas espécies por 500 anos. Já é difícil conseguir financiamento para cinco anos de projeto", brinca.
O quanto você vive depende, em parte, do seu lugar no mundo; seu nicho ecológico. Os organismos no topo da cadeia alimentar têm poucos predadores, então têm mais chances de viver mais e passar essa característica para outras gerações.
O clima frio também tem importância: as esponjas-de-vidro da Antártida, por exemplo, são consideradas os "animais vivos mais velhos" da Terra, com uma longevidade estimada em cerca de 15 mil anos.
"Não temos certeza disso", diz Magalhães, "porque, obviamente, ninguém estava lá para checá-las há 15 mil anos".
As estimativas são passíveis a erro, mas de acordo com Magalhães, as esponjas da Antártida crescem lentamente por causa do frio, e se encaixam no modelo de criaturas de crescimento lento com períodos de vida mais longos.
No entanto, o organismo vivo mais velho - segundo medições mais precisas - continua sendo o pinheiro bristlecone da Grande Bacia, na Califórnia, o Pinus longaeva. O Pando e as esponjas-de-vidro da Antártida podem ser mais velhos, mas suas idades foram estabelecidas por medições indiretas.
Para os especialistas, entretanto, há muito a ser descoberto nessa área, e é provável que o organismo mais velho do planeta sequer foi encontrado.
http://www.bbc.com/portuguese/geral-40258768#
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