sexta-feira, 25 de julho de 2014


25/07/2014 00h05 - Atualizado em 25/07/2014 00h05

Biólogos descobrem 

nova espécie de sapo 

minúsculo na Mata Atlântica

Sapo de apenas 14 mm foi chamado de 'Chiasmocleis quilombola'.
Nome é homenagem a quilombos do Espírito Santo, onde sapo foi coletado.

Do G1, em São Paulo
  •  
Macho da nova espécie de sapos, 'Chiasmocleis quilombola', que chega a apenas 14 mm de comprimento (Foto: João F. R. Tonini/Divulgação)Macho da nova espécie de sapos, 'Chiasmocleis quilombola', que chega a apenas 14 mm de comprimento (Foto: João F. R. Tonini/Divulgação)
Pesquisadores identificaram uma nova espécie de sapo na Mata Atlântica. Nomeada Chiasmocleis quilombola, a nova espécie é minúscula, medindo no máximo 14 milímetros de comprimento na fase adulta.
A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade de Richmond e da Universidade George Washington, ambas nos Estados Unidos, foi publicada nesta quinta-feira (24) na revista científica "ZooKeys".
A pesquisa partiu do princípio de que muitos exemplares de sapos reunidos como sendo da mesma espécie, com base apenas na morfologia dos animais, pertenciam, na realidade, a espécies variadas. Devido à semelhança entre os animais, essa distinção só é possível com análises moleculares, que avaliam o DNA.
"Estávamos intrigados pela variação morfológica desses sapos, que é pequena, mas depois dos primeiros resultados das filogenias moleculares, ficou clara a grande disparidade genética entre eles", diz o pesquisador João Tonini, um dos autores da pesquisa e aluno de doutorado da Universidade George Washington.
Os exemplares do sapo avaliados na pesquisa foram coletados em armadilhas na Floresta Nacional do Rio Preto, no município de Conceição da Barra, no extremo norte do Espírito Santo. Anteriormente, exemplares dessa espécie tinham sido erroneamente identificados como das espécies Chiasmocleis lacrimae e Chiasmocleis capixaba.
O gênero Chiasmocleis reúne 29 espécies de anfíbios distribuídos pela Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. Os pesquisadores nomearam o novo sapo em homenagem às comunidades quilombolas que existem no norte do estado do Espírito Santo, onde a espécie foi coletada.
  •  
 Pesquisadores Larissa Gaigher e Yuri Leite vefificam armadilha instalada na Floresta Nacional do Rio Preto, onde exemplares do 'Chiasmocleis quilombola' foram coletados Pesquisadores Larissa Gaigher e Yuri Leite vefificam armadilha instalada na Floresta Nacional do Rio Preto, onde exemplares do 'Chiasmocleis quilombola' foram coletados (Foto: João F. R. Tonini/Divulgação )Pesquisadores Larissa Gaigher e Yuri Leite vefificam armadilha instalada na Floresta Nacional do Rio Preto, onde exemplares do 'Chiasmocleis quilombola' foram coletados (Foto: João F. R. Tonini/Divulgação )

quarta-feira, 23 de julho de 2014


22/07/2014 12h50 - Atualizado em 22/07/2014 12h50

Pesquisadores descobrem

formação de recife na BA 

semelhante a coração

Caso foi identificado em estudos para mapeamento em Santa Cruz Cabrália.
No local estão colônias do coral casca-de-jaca, que tem coloração rosada.

Do G1 BA
Imagem de satélite mostra formação de coral na Bahia (Foto: Divulgação / Coral Vivo)Imagem de satélite mostra formação de recifes semelhante a coração (Foto: Divulgação / Coral Vivo)
Um mapeamento realizado na costa de Santa Cruz Cabrália, sul da Bahia, revelou uma formação de recifes semelhante a um coração. O caso foi descoberto através de imagens de satélite realizadas por pesquisadores do projeto Coral Vivo, na qual encontraram a formação ao sul do complexo de recifes do Parque Municipal Marinho da Coroa Alta, na região conhecida como Alagados.
No local estão colônias do coral conhecido como casca-de-jaca, que são recobertos de algas calcárias e que têm a coloração rosada. Segundo o geólogo José Carlos Seoane, coordenador do trabalho, serão mapeados aproximadamente 75 km². “A inclinação desses paredões é praticamente vertical, muito diferente das encontradas nos demais recifes de coral da região”, disse.
O mapeamento físico do complexo de recifes da Coroa Alta deve ser publicado pelo projeto Coral Vivo nas prefeituras próximas à região até 2015. Os estudos irão trazer um panorama sobre como são os recifes e o que está exatamente em cada ponto. Segundo os pesquisadores, o resultado do trabalho será usado como parâmetro para a realização de experimentos.

terça-feira, 15 de julho de 2014

08/07/2014 06h00 - Atualizado em 08/07/2014 15h18

Febre chikungunya tem 

sinais que lembram dengue;

conheça doença

Infecção provoca febre repentina e dores intensas nas articulações.
Vírus transmitido por mosquito já foi contraído por 20 brasileiros no exterior.

Mariana Lenharo 
Do G1, em São Paulo
Vírus chikungunya é transmitido por mosquitos Aedes aegypty (no alto) e  Aedes albopictus (Foto: Douglas Aby Saber/Fotoarena-AFP Photo/EID Mediterranee)Vírus Chikungunya pode ser transmitido por dois
tipos de mosquitos: o 'Aedes aegypti' (no alto) e
o 'Aedes albopictus' (Foto: Douglas Aby Saber/
Fotoarena-AFP/EID Mediterranee)
A infecção pelo vírus chikungunya provoca sintomas parecidos com os da dengue, porém mais dolorosos. No idioma africano makonde, o nome chikungunya significa "aqueles que se dobram", em referência à postura que os pacientes adotam diante das penosas dores articulares que a doença causa.
Em compensação, comparado com a dengue, o novo vírus mata com menos frequência. Em idosos, quando a infecção é associada a outros problemas de saúde, ela pode até contribuir como causa de morte, porém complicações sérias são raras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Este ano, já houve 20 casos da infecção notificados no Brasil desde maio, de acordo com o Ministério da Saúde. Mas, até o momento, todos são importados: 19 pacientes contraíram o vírus no Haiti e um, na República Dominicana. Isso significa que não há evidências de que o vírus esteja circulando entre os mosquitos do país.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, a maioria dos casos são de pessoas que fazem parte da missão brasileira no Haiti: soldados, missionários e profissionais da saúde. Os pacientes são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Rio Grande do Sul e Paraná. Saiba mais detalhes sobre a doença:
Como as pessoas pegam o vírus?
Por ser transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti, e também pelo mosquito Aedes albopictus, a infecção pelo chikungunya segue os mesmos padrões sazonais da dengue, de acordo com o infectologista Pedro Tauil, do Comitê de Doenças Emergentes da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O risco aumenta, portanto, em épocas de calor e chuva, mais propícias à reprodução dos insetos. Eles também picam principalmente durante o dia. A principal diferença de transmissão em relação à dengue é que o Aedes albopictus também pode ser encontrado em áreas rurais, não apenas em cidades.
Onde o vírus está circulando?
De acordo a OMS, o vírus já vinha circulando nos últimos anos pela África e pela Ásia, principalmente no subcontinente indiano. Mais recentemente,  foram identificados casos na Europa. Em dezembro do ano passado, a doença chegou ao Caribe – a primeira ocorrência de surto nas Américas. Até o momento, não existe registro de nenhum caso transmitido dentro do Brasil.
O chikungunya tem subtipos diferentes, como a dengue?
Diferentemente da dengue, que tem quatro subtipos, o chikungunya é único. Uma vez que a pessoa é infectada e se recupera, ela se torna imune à doença. Quem já pegou dengue não está nem menos nem mais vulnerável ao chikungunya: apesar dos sintomas parecidos e da forma de transmissão similar, tratam-se de vírus diferentes.
Quais são os sintomas?
Entre quatro e oito dias após a picada do mosquito infectado, o paciente apresenta febre repentina acompanhada de dores nas articulações. Outros sintomas, como dor de cabeça, dor muscular, náusea e manchas avermelhadas na pele, fazem com que o quadro seja parecido com o da dengue. A principal diferença são as intensas dores articulares.
 Foto de 30 de junho mostra Delimene Saint Lise com sua filha Gisline, de 2 anos, que foi infectada pelo vírus chikungunya em Porto Príncipe, no Haiti (Foto: AP Photo/David McFadden)Foto de 30 de junho mostra Delimene Saint Lise
com sua filha Gisline, de 2 anos, que foi infectada
pelo vírus Chikungunya em Porto Príncipe, no Haiti
(Foto: AP Photo/David McFadden)
Em média, os sintomas duram entre 10 e 15 dias, desaparecendo em seguida. Em alguns casos, porém, as dores articulares podem permanecer por meses e até anos. De acordo com a OMS, complicações graves são incomuns. Em casos mais raros, há relatos de complicações cardíacas e neurológicas, principalmente em pacientes idosos. Com frequência, os sintomas são tão brandos que a infecção não chega a ser identificada, ou é erroneamente diagnosticada como dengue.
Segundo Barbosa, é importante observar que o chikungunya é "muito menos severo que a dengue, em termos de produzir casos graves e hospitalização".
Tem tratamento?
Não há um tratamento capaz de curar a infecção, nem vacinas voltadas para preveni-la. O tratamento é paliativo, com uso de antipiréticos e analgésicos para aliviar os sintomas. Se as dores articulares permanecerem por muito tempo e forem dolorosas demais, uma opção terapêutica é o uso de corticoides.
De acordo com Tauil, da SBI, os serviços de saúde brasileiros já estão preparados para identificar a doença. "Provavelmente quem vai receber esses casos são reumatologistas. Já escrevemos artigos voltados para esses profissionais, orientando-os a ficar atentos a pessoas provenientes de áreas em que há transmissão", diz o infectologista. Pessoas que apresentarem os sintomas citados e estiverem voltando de áreas onde existe a transmissão do vírus, como o Caribe, devem comunicar o médico.
Apesar de haver poucos riscos de formas hemorrágicas da infecção por chikungunya, recomenda-se evitar medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (aspirina) nos primeiros dias de sintomas, antes da obtenção do diagnóstico definitivo.
Como se prevenir?
Sobre a prevenção, valem as mesmas regras aplicadas à dengue: ela é feita por meio do controle dos mosquitos que transmitem o vírus.
Portanto, evitar água parada, que os insetos usam para se reproduzir, é a principal medida. Em casos específicos de surtos, o uso de inseticidas e telas protetoras nas janelas das casas também pode ser aconselhado.
Quando surgiu o vírus?
O vírus chikungunya foi identificado pela primeira vez entre 1952 e 1953, durante uma epidemia na Tanzânia. Mas casos parecidos com essa infecção – com febres e dores nas articulações – já haviam sido relatados em 1770.
Na Ásia, a doença foi detectada pela primeira vez em 1960, durante um surto na Tailândia, e durante as décadas de 1960 e 1970, na Índia. Em 2007, foram identificados os primeiros casos de transmissão na Europa, no norte da Itália. Em dezembro de 2013, o vírus finalmente chegou à América, quando casos foram identificados na ilha de São Martinho (ou Saint-Martin), nas Antilhas. Atualmente, existe um surto da doença em vários países do Caribe.
Que medidas preventivas o governo brasileiro adotou?
Desde o ano passado, quando foram confirmados os primeiros casos de chikungunya no Caribe, o Ministério da Saúde começou a elaborar um plano de contingência do vírus para o Brasil. "Existe a possibilidade de transmissão em todo local que há mosquitos vetores", explica o secretário Barbosa.
O plano consiste em promover uma redução drástica da população de mosquitos nos arredores de onde os casos são identificados e orientar médicos, assistentes e profissionais de laboratórios de referência sobre como reconhecer um caso suspeito. Atualmente, seis laboratórios do país são capazes de fazer o teste para detectar o novo vírus.
Em 2010, o Brasil já tinha recebido três casos da doença do exterior: dois surfistas que foram infectados na Indonésia e uma missionária, na Índia.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Atualizado: 08/07/2014 14:30 | Por Fausto Macedo, estadao.com.br

TJ condena laboratório por erro em diagnóstico de câncer de mama

Relator adverte que falha causou "dor, sofrimento, aflição e retardou tratamento"



TJ condena laboratório por erro em diagnóstico de câncer de mama (© Reuters)
A 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça paulista, por maioria dos votos, condenou um laboratório clinico em São Paulo a pagar indenização no valor de R$ 10 mil a uma mulher que recebeu diagnóstico negativo de câncer de mama.
Segundo o Tribunal de Justiça, a autora da ação relatou que um exame de mamografia feito no laboratório constatou a existência de nódulos nos seios, porém outra avaliação, efetuada no mesmo estabelecimento, descartou a hipótese de existência de tumores.
Por iniciativa própria, 26 dias depois, a mulher submeteu-se a ultrassonografia em outro laboratório que apontou, então, o surgimento de câncer em grau invasivo.
A paciente passou por cirurgia cerca de um mês após o resultado positivo da doença.
O TJ não revelou o nome do laboratório, nem o da autora da ação.
Para o desembargador Luis Mario Galbetti, relator da ação na 7.ª Câmara de Direito Privado do TJ, houve falha na prestação de serviços prestados pelo primeiro laboratório. "O exame de mamografia já havia detectado a presença de nódulos bilaterais, bastando ao especialista que na sequência realizou o exame de ultrassom averiguar que tipo de lesão acometia a autora (da ação), mas, ao contrário disso, descartou por completo a existência de nódulo na mama direita, de molde a revelar que os profissionais da clínica ou não estavam integrados ou não estavam empenhados na ocasião em que atendiam a paciente."
O relator advertiu em seu voto:"É intuitivo que o erro de diagnóstico causou dor, sofrimento, aflição e retardou o tratamento, colocando em risco a saúde e a qualidade de vida da autora. As consequências poderiam ser até piores."
Os desembargadores Miguel Angelo Brandi Júnior e Mary Grün também participaram do julgamento.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Produtor de leite orgânico busca ajuda e se torna fazenda modelo em SP

Propriedade estava a beira da falência e passou por 7 anos de mudanças.
Projeto Balde Cheio existe há 15 anos e atende cerca de 4 mil propriedades.

06/07/2014 08h30 - Atualizado em 06/07/2014 08h34

Do Globo Rural  










O Balde Cheio é um projeto de capacitação de técnicos da extensão rural, usando uma propriedade como se ela fosse uma sala de aula prática. “Nós vamos nessa propriedade por um período de uns cinco anos, propondo mudanças”, explica o agrônomo Artur Chinelato de Camargo.
Uma propriedade orgânica em Serra Negra, município turístico em São Paulo, já esteve à beira da falência. O dono Ricardo Schiavinato estava praticamente quebrado. Para se recuperar, ele buscou ajuda dos especialistas da Embrapa.
A propriedade tinha pastos abertos sem divisão em piquetes. quem cuidou dessa primeira mudança foi o agrônomo André Monteiro Novo, da Embrapa. “O investimento foi na base do sistema de produção. Fertilidade de solo. Foi feita análise de solo, monitoramento de todos os nutrientes que já existiam, recuperação de pastagens, divisão de piquetes. A gente saiu de um regime de semi-confinamento para um sistema de pastejo com forrageiras de alta qualidade”, diz o agrônomo.
O bom manejo da pastagem inclui o plantio de adubação verde. O plantio de milho é essencial porque conseguir o produto orgânico não é fácil. O milho é usado tanto em grão como na forma de silagem. Além da adubação, da divisão em piquetes, o pasto recebeu árvores, sombra para o conforto dos animais. A mata ciliar foi recuperada com o plantio de 80 espécies nativas e a paisagem na fazenda foi mudando.

Com o pasto melhor, foi possível pensar no rebanho que, segundo o veterinário da Embrapa, Marco Bergamaschi, não era o ideal. “Para atender a situação onde não existia a nutrição adequada, ele tinha que ter um animal resistente, mas que são menos produtivos”, explica o veterinário. Hoje Ricardo Schiavinato investe no cruzamento entre as raças jersey, holandesa e sueca vermelha. 
A ordenha parece igual a qualquer outra, mas tem alguns detalhes diferentes. Uma nuvem ao redor da sala de ordenha contém citronela: um repelente natural para as moscas. Do lado de fora tem ainda dois tipos de armadilhas. Tudo isso porque não pode entrar inseticida.
Na hora da ordenha, o veterinário Mário Ramos de Paula e Silva aproveita pra medicar alguns animais, usando formulações homeopáticas. Mário diz que a homeopatia não tem resultado demorado nem dificulta o manejo. Na fábrica de ração, os ingredientes são misturados com gotinhas de remédio para controle de carrapatos, bernes, moscas e vermes. Isso não quer dizer que deixem de dar as vacinas normais. “As vacinas são obrigatórias e necessárias para o controle sanitário de qualquer rebanho bovino de leite”, explica o veterinário. 
A propriedade conta com cocho trenó. É um cocho sobre rodas que pode ser retirado de um local alagado, por exemplo, e levado a um lugar seco sem dificuldade. Outro detalhe interessante sobre esse cocho é o material de que ele é feito. É chamado de madeira plástica e é bem resistente. Um produto reciclado a partir de hastes flexíveis e escovas de dente. Os mourões da fazenda são do mesmo material. No cocho é servido cana picada e ração com o remédio homeopático.
A fazenda tem uma área de 102 hectares dividida em 200 piquetes com capins diversos: tifton, jiggs, estrela, cameron, mombaça e braquiarão. Os capins têm crescimentos diferentes, resistência a pragas diferentes e qualidades diferentes.

Em uma criação convencional, o que se faz depois da passagem dos animais pelo piquete é aplicar ureia para que o capim se recupere mais rápido. Em uma fazenda orgânica, a aplicação de ureia é proibida, então o capim todo é roçado para que o que sobrou vire adubação verde.

Além da adubação verde com o próprio capim, o pasto recebe esterco, correção com calcário, potássio e outro adubo que vem dos efluentes do laticínio e da sala de ordenha.
A fazenda é a única propriedade do projeto Balde Cheio com um sistema orgânico de produção e acabou virando modelo. Agrônomos e técnicos do projeto em outros estados se interessam pelos conceitos que veem ali.
Caso você tenha interesse em ser atendido pelo projeto Balde Cheio, entre em contato com a Embrapa Pecuária Sudeste através do SAC. A Embrapa vai indicar a entidade que faz a extensão rural em sua região, clique aqui para acessar.
tópicos:



Cientistas estudam região colombiana em busca de cura para Alzheimer

Com apenas 40, 50 anos de idade, moradores começam a perder a memória, a fala e toda a capacidade de raciocínio.


Edição do dia 06/07/2014
06/07/2014 22h54 - Atualizado em 06/07/2014 22h54
O Fantástico foi a uma região distante, nas montanhas da Colômbia, para conhecer pessoas vítimas de uma sina que desafia a ciência. Com apenas 40, 50 anos de idade, elas começam a perder a memória, a fala e toda a capacidade de raciocínio. O mistério está atraindo a atenção de médicos do mundo inteiro e pode guardar a chave para a cura de uma doença devastadora. A reportagem é de Álvaro Pereira Junior e Marcelo Benincassa.
Nas montanhas do noroeste da Colômbia, gente ainda jovem já se esquece de tudo. “A memória se vai muito rápido. O que se sabe, logo se esquece”, conta uma moradora.
“Ele não entende nada. Nada, nada. É raro quando entende alguma coisa”, relata uma mulher.
“Ela chora e a gente não sabe por quê”, diz outra.
Isso acontece há muitas gerações. Literalmente, há séculos.
A doença, vista como uma maldição, tinha um nome popular: "la bobera" - a bobeira.
Demorou, mas um dia ela saiu do universo da superstição e foi descoberta por um cientista.
Essa história começa no Hospital San Vicente de Paula, o maior de Medellín. Era o ano de 1984 quando um médico recém-formado, chamado Francisco Lopera, atendeu um caso muito estranho. Era um homem de 47 anos, portanto, relativamente jovem e que já apresentava claros sinais da doença de Alzheimer. O doutor Francisco ficou intrigado, e conversando com o paciente descobriu que ele veio de uma aldeia a quatro horas de Medellín. E que, nesse vilarejo, muitas pessoas tinham exatamente a mesma doença. Gente jovem que ia se esquecendo de tudo e em pouco tempo estavam com Alzheimer avançado. O doutor Francisco decidiu conhecer essa história de perto, chamou a sua enfermeira de confiança e se embrenhou pelo interior montanhoso da Colômbia para investigar.
Mas era uma época difícil de viver no país. Ainda mais para viajar. Nos anos 80, a Colômbia fervia e o centro da violência era Medellín. Nas ruas e vielas da segunda maior cidade colombiana, quem reinava era Pablo Escobar, o patrão de um cartel milionário e brutal de tráfico de cocaína.
Na zona rural, a situação não era mais tranquila. Milícias paramilitares de extrema direita agiam por ali. E a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias, as Farc, naquela época muito mais fortes do que hoje, combatia o exército em meio às montanhas.
Assim, o trabalho do médico Francisco Lopera não era só uma missão científica: era também uma aventura.
Francisco Lopera, neurologista: Sequestraram uma enfermeira por três dias, junto com as amostras de sangue. Parece que eram as Farc, mas não temos certeza. Era um grupo de guerrilheiros.
Hoje, 30 anos depois, não existe mais um clima tão pesado de violência. Mas o acesso aos povoados onde vivem os pacientes continua bem difícil. Não tanto pela distância, a cerca de 100 quilômetros a partir de Medellín. Mas pelas estradas, que são estreitas, passam por dentro das cidadezinhas, e às vezes nem são asfaltadas.
Depois da cidade de Liborina, a principal dessa região agrícola, a passagem se estreita. A partir de determinado momento, não tem mais jeito de seguir de carro, só tem duas maneiras: ou a pé ou a cavalo.
O Fantástico chegou à primeira casa onde existe uma família que tem o problema do Alzheimer precoce. Os cientistas pediram que a reportagem não informe o sobrenome dos entrevistados, para não estigmatizar as famílias.
Dona Olga, de 58 anos, nasceu na cidade, mas trabalhou muito tempo como empregada doméstica em Medellín. A doença tem uma influência devastadora na família: Olga perdeu o pai, as tias e quatro irmãos.
“Eles eram pessoas normais, tinham suas aventuras, muito normais. É triste ver como vão decaindo. É triste”, conta Olga.
Dona Olga deixou Medellín para trás e voltou para o campo. Tudo para cuidar de outros dois irmãos, que agora também começam a esquecer.
Fantástico: Eles não sabem que estão doentes?
Olga: Não, não sabem. Não aceitam a doença.
Mais um longo percurso de veredas, subidas e descidas, e chegamos a outra casa isolada, onde um primo de Olga, Elpídio, está doente. A mulher, Yolanda, se dedica 100% a ele.
Fantástico: E como a senhora percebeu que ele estava ficando doente?
Yolanda: Ele começou a repetir as coisas. Ria. Até chorava rindo por aí. Eu perguntava: "Por que está rindo?". E ele respondia: "É melhor rir do que chorar".
Fantástico: Ele entende as coisas?
Yolanda: Não entende nada.
Elpídio tem 69 anos. Começou a esquecer aos 60. Relativamente tarde, se comparado aos primos.
Olga: Ele tem 48 anos. O outro que está piorzinho, ele tem 57 anos.
O Alzheimer, normalmente, não atinge esse nível de gravidade tão cedo. Em geral, os primeiros sintomas, leves, aparecem depois dos 60, 65 anos. E, em média, a pessoa só fica totalmente incapacitada depois dos 80.
Mas, nas montanhas em torno de Medellín, tudo acontece muito mais cedo e muito mais rápido.
“A doença começa aos 45, 50 anos. Chega na idade mais produtiva da vida e é uma catástrofe para a família”, afirma Lopera.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, ou seja, vai destruindo gradativamente as células do sistema nervoso, os neurônios. Os cientistas sabem que ele está associado ao acúmulo no cérebro de um certo tipo de proteína. Ao longo dos anos, as proteínas vão formando placas, que matam as células nervosas.
Nisso, o Alzheimer mais comum é igual ao do tipo precoce, que é encontrado na Colômbia. Mas o que acontece com os pacientes colombianos tem características bem específicas:  é um Alzheimer provocado por uma mutação genética, um defeito no DNA. E é fortemente hereditário.
“Qualquer um que tenha a doença tem 50% de chance de transmitir para os filhos”, afirma Lopera.
Fantástico: Qual a idade do paciente mais jovem que manifestou a doença?
Lopera: 32 anos.
Para entender por quê, nessa região da Colômbia, as pessoas tinham Alzheimer tão cedo, o doutor Francisco, então um jovem médico, precisou aliar ciência e a história. E foi para um povoado chamado Yarumal, de onde vinha seu primeiro paciente.
O que ele queria era mergulhar nas certidões de batismo, estabelecer graus de parentesco entre os doentes, montar as árvores genealógicas, voltar no tempo. E, a partir daí, descobrir quem é que tinha trazido essa mutação genética para a região. Muito provavelmente, um imigrante europeu.
Lucia ajudava o doutor Francisco. “Tivemos que ir às igrejas, às casas rurais, para que deixassem a gente ver os livros onde estavam a ficha de nascimento de cada pessoa”.
Os dois se embrenharam no passado. E conseguiram localizar na história o casal de imigrantes que trouxe, no século XVIII, esse defeito genético para a Colômbia.
“A mutação chegou na época da colônia e foi se espalhando”, explica o doutor.
A pesquisa do doutor Francisco se modernizou. E hoje ele chefia um dos laboratórios mais avançados do mundo no estudo do Alzheimer.
Além de cuidar da parte científica, os cientistas fazem um acompanhamento social das famílias, na maioria muito pobres. Como a da Paula, de 18 anos. Ela mora na favela de Santo Domingo, a mais alta de Medellín. Paula largou tudo para cuidar da mãe, que tem só 50 anos.
Fantástico: Hoje você não estuda?
Paula: Não. Tenho que cuidar da minha mãe e não tenho tempo. Lembro que ela era muito protetora comigo. Agora sou eu quem protege ela. Eu troco as fraldas, tento deixar ela sempre bonitinha.
Fantástico: Você acha que sua mãe sabe o que está acontecendo ao redor dela?
Paula: Acho que às vezes sim. Às vezes ela olha pra gente com um olhar triste.
Em outro bairro humilde de Medellín, Eliana teve que assumir a criação dos irmãos depois que a mãe ficou muito doente, e tinha só 46 anos: “Sou quem tem que cuidar dela. Estou ao lado da minha mãe quando acordo e estou ao lado da minha mãe quando vou dormir”.
Os parentes também convivem com uma incerteza: a de que, eles próprios, um dia fiquem doentes. “é uma loucura conviver com isso, porque eu penso ‘ah, vou ter, a minha filha vai ter’, nós pensamos: ‘estamos todos doentes’. É uma loucura para nós”, conta Eliana.
Mas é exatamente esse risco tão alto que também traz uma esperança. Como, para essas famílias, o Alzheimer chega cedo e avança rápido, Medellín e seus arredores se tornaram um lugar ideal para avaliar novos remédios contra a doença, que hoje ainda não tem cura.
Um dessas drogas já está em testes, em pessoas que têm a mutação genética, mas ainda não manifestam a doença.
“A esperança é que o remédio funcione. Que se tenha uma de duas coisas. Ou uma prevenção dos sintomas, ou um atraso, que faça com que eles demorem muito para aparecer. Qualquer um dos dois será um bom resultado”, diz Lopera.
Nas montanhas e nos bairros pobres de Medellín, quem convive com a doença procura olhar para frente.
“Eu me vejo trabalhando e em uma faculdade”, sonha Paula.
“Estar superbem, sem a doença e poder levar a vida adiante”, deseja Eliana.