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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

segunda-feira, 16 de abril de 2018


Corais da Amazônia encontrados sobre o petróleo

Nádia Pontes

/6 SLIDES © Greenpeace
UM RECIFE IMPROVÁVEL
Uma missão científica percorre a costa norte do Brasil até a Guiana Francesa. Cientistas brasileiros da UFPA, UFRJ, USP e UENF pesquisam os corais da Amazônia, praticamente desconhecidos da ciência. Eles formam o maior recife do Brasil, são encontrados de 70 metros a 220 metros de profundidade e têm potencial de abrigar novas espécies.
Escondidos no fundo do Oceano Atlântico, numa das regiões de correnteza mais fortes do mundo, corais da Amazônia foram localizados em uma área que pode, a qualquer momento, ser liberada para a exploração de petróleo. A descoberta foi feita por pesquisadores brasileiros a bordo do navio Esperanza, cedido pelo Greenpeace para a missão científica.
Pesquisadores buscam evidências numa faixa da costa norte do Brasil, próxima ao Amapá e ainda sob influência das águas que o rio Amazonas despeja no mar. É exatamente ali que a empresa francesa Total aguarda licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para extrair petróleo.
"Pela primeira vez, obtivemos imagens da área com um robô. Encontramos recifes na porção mais rasa dos blocos de onde se quer extrair petróleo", afirma Ronaldo Francini-Filho, pesquisador da Universidade Federal da Paraíba (UFPA). "Tem área de petróleo aqui que está embaixo das áreas de recife. Isso a gente não pode deixar de considerar."
Inicialmente, estimou-se que os corais da Amazônia ocupassem uma área de 9,5 mil quilômetros quadrados, mas o cálculo mais recente indica que seu tamanho seja mais de cinco vezes maior. "O recife tem em torno de 56 mil quilômetros quadrados. Portanto, é o maior recife do Brasil e um dos maiores do mundo", disse Fabiano Thompson, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também a bordo do navio.
Os recifes cobrem, portanto, uma área submersa maior que o estado do Rio de Janeiro, habitada por mais de 40 espécies de corais, 60 de esponjas – metade provavelmente ainda desconhecida –, 70 espécies de peixes, lagostas, estrelas-do-mar. A região também é refúgio de peixes que já desapareceram da costa brasileira, como o mero. Os detalhes dessa descoberta serão publicados num artigo científico nas próximas semanas.
A expedição a bordo do Esperanza, iniciada em 2 de abril, entrava no sexto dia quando o novo alvo foi identificado. Enquanto um robô especialmente trazido para a missão científica –equipado com três câmeras e um sistema de coleta de água e material – atingia profundidade, as imagens eram exibidas em duas telas instaladas na popa do navio.
Depois de uma detalhada análise e longos debates, os pesquisadores confirmaram: os corais da Amazônia cobrem também exatamente o local considerado nova fronteira petrolífera, na Bacia da Foz do Amazonas.
A faixa de recifes está localizada entre 70 e 220 metros de profundidade na costa ao longo dos estados de Maranhão, Pará e Amapá. Até então, os livros diziam que corais não cresciam perto da foz de grandes rios, onde a água doce chega ao mar carregada de lama, é mais escura e impede a entrada a luz – fonte usada pelos corais para produzir alimento.
Um mundo improvável e desconhecido
© Greenpeace Recife amazônico abriga mais de 40 espécies de corais, 60 de esponjas 70 de peixes, além de lagostas e estrelas-do-mar
A jornada dos pesquisadores brasileiros em busca do improvável recife de corais começou em 2011. Mais tarde, missões científicas fizeram a coleta de dados no local. Os resultados surpreenderam o mundo num artigo publicado em 2016.
"Exatamente porque o acesso é tão difícil e as condições oceanográficas aqui são tão duras é que a gente sabe pouco sobre esse lugar", comenta Francini-Filho sobre o impacto da descoberta.
As primeiras imagens dos corais da Amazônia foram registradas em 2017, numa viagem de submarino realizada com apoio do Greenpeace. "O pouco do conhecimento que a gente tem dessa região já indica que realmente é uma área extremamente rica, sensível à exploração de petróleo", complementa o pesquisador, estimando que se conheçam apenas 5% da vida que o recife abriga.
Com o anúncio que surpreendeu a ciência, diante da iminência da chegada de plataformas para retirada de petróleo nessa parte do Atlântico, a conservação dos corais da Amazônia se transformou numa campanha mundial do Greenpeace.
Corais sobre o petróleo
A atual expedição, que deve se estender até maio, exigiu mais de um ano de planejamento, obteve autorização do governo brasileiro, e custou 700 mil euros – montante que veio dos doadores que mantêm o Greenpeace.
"É urgente a campanha, é urgente essa pesquisa cientifica que nós fazemos aqui pra provar que é mesmo um novo bioma, único no mundo, pouquíssimo conhecido pela ciência", argumenta Thiago Almeida, representante da Campanha Defenda os Corais da Amazônia.
Um vazamento de petróleo traria danos irreparáveis, argumenta Almeida. "Além disso, esse petróleo chega mais perto da costa e dos rios brasileiros na Amazônia, região com um dos maiores mangues do planeta. Estamos falando de uma ameaça a diversas populações de pescadores, extrativistas, ribeirinhos e povos indígenas."
Thompson vê grande potencial nas pesquisas. "Esse recife é considerado uma farmácia submarina. Ele pode se reverter em divisas para nosso país, se conseguirmos desenvolver a biotecnologia marinha a partir da biodiversidade que ele abriga, e gerar moléculas bioativas para novos medicamentos para tratar doenças como câncer, viroses, doenças infecciosas", explica o pesquisador da UFRJ, citando iniciativas já em andamento em países na Europa, Estados Unidos e Japão.
Últimos passos antes da exploração
O processo de licenciamento para exploração de petróleo no local pela francesa Total e a britânica BP estão em suas etapas finais. O Ibama informou que o processo conduzido pela Total está em estágio mais próximo de decisão.
Os blocos para exploração foram adquiridos em 2013, num leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Estima-se que a região da Bacia da Foz do Amazonas armazene até 14 bilhões de barris de petróleo.
Questionada pela DW Brasil, a Total não respondeu se sabia da existência dos corais sobre a região que pretende explorar e se manifestou por meio de nota. "A Total respondeu, em janeiro, ao último parecer técnico do Ibama em relação ao Estudo de Impacto Ambiental da atividade de perfuração de poços que a empresa prevê realizar nos blocos que opera na Bacia da Foz do Amazonas. A empresa no momento aguarda um posicionamento do órgão, no âmbito do processo de licenciamento ambiental que está em curso."
Os pesquisadores esperam que a ciência seja levada em conta na decisão. "Com base no conhecimento que temos até agora, a exploração de petróleo aqui será realmente uma tragédia, caso ela ocorra. Porque a gente conhece muito pouco disso que estamos chamando de megabioma: uma região da Floresta Amazônica conectada com o segundo maior rio do planeta e um dos maiores recifes do mundo", opina Francini-Filho.
 

domingo, 25 de junho de 2017


Em busca do ser vivo mais velho do mundo

Pinheiro BristleconeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO pinheiro de bristlecone, da Grande Bacia, foi descoberto no oeste dos Estados Unidos
As efêmeras, insetos semelhantes a pequenas libélulas, vivem por apenas um dia; os humanos podem chegar, com sorte, a um século de vida. Mas qual é o organismo vivo mais velho do mundo? Para cientistas, essa tarefa, de tentar precisar a idade de espécies longevas, é um desafio.
Sob os galhos de uma castanheira de 300 anos no Jardim Botânico Real em Londres, o diretor do local, Tony Kirkham, diz que as árvores são capazes de viver mais que animais mas que é preciso um trabalho de detetive para encontrar as mais velhas e estimar sua idade.
"Primeiro, podemos olhar registros antigos para descobrir se uma árvore estava plantada lá numa determinada data. Então, olhamos para pinturas e outros trabalhos de arte para ver se a árvore já estava presente. E alguns mapas antigos também podem claramente mostrar as árvores do local, especialmente as importantes".
Uma maneira conhecida de definir a idade de uma árvore é contar o número de anéis no núcleo do tronco: há um anel por ano de crescimento. É um processo conhecido como dendrocronologia e só funciona para certos tipos de árvore - as que têm um crescimento anual acelerado.
O problema óbvio é que contar os anéis geralmente envolve cortar a árvore. Arboricultores contornam esse problema usando um tipo de furadeira que permite remover parte do núcleo para contar os anéis sem levar a árvore à morte.
É uma arte delicada; Tony conta um caso ocorrido nos anos 60, quando a broca de um cientista quebrou dentro de um pinheiro do tipo bristlecone do qual queria retirar uma amostra.
O equipamento é caro, e para ajudá-lo a recuperar o instrumento perdido, um guarda-florestal cortou a árvore. Uma vez derrubada, a árvore pôde ser facilmente analisada: tinha 5 mil anos.
Direito de imagemJ.ZAPELL
Image caption'Pando' está localizado na Floresta Nacional de Fishlake, em Utah, nos EUA
"Foi terrível, mas muitos achados científicos foram possíveis graças àquela oportunidade, e desde então, encontramos árvores que são tão velhas quanto, se não mais velhas", admite Tony.
Uma equipe de pesquisadores americanos mantém uma lista, chamada Lista Velha, de árvores antigas oficialmente datadas. Entre elas, está uma figueira sagrada no Sri Lanka que tem pelo menos 2.222 anos, e um cipreste-da-patagônia, no Chile, com 3.627 anos - é tão velho quanto os monumentos pré-históricos de Stonehenge, na Inglaterra.
Um pinheiro bristlecone batizado de Matusalém, encontrado nas montanhas da Grande Bacia, na Califórnia, nos EUA, tem 4.850 anos. Mas a árvore mais velha da lista, um pinheiro da mesma espécie na mesma localidade, ainda não batizado, tem um núcleo sugerindo uma idade de 5.067 anos.
A árvore, desgastada pelo tempo, viveu a ascensão e a queda do Império Romano. Já estava lá quando os egípcios antigos começaram a construção das pirâmides.
Mas será este pinheiro de mais de 5 mil anos o organismo individual mais velho do planeta? Isto depende da definição de "organismo individual".
No Parque Nacional de Fishlake, em Utah, nos EUA, vivem álamos-trêmulos que muitos teriam dificuldade de enxergar como uma única árvore. Trata-se de uma colônia clonal, ou seja, um grupo de árvores geneticamente idênticas.
É tão grande que parece uma floresta. Mas mesmo sendo do tamanho do Vaticano, a colônia, conhecida como "Pando", latim para "eu me espalho", começou de uma única semente, e, ao longo dos anos, se estendeu por 50 mil troncos de árvores.
É difícil estimar sua idade exata, diz a geneticista de população Karen Mock, da Universidade do Estado de Utah, que trabalha no local. "Houve várias estimativas, mas o problema é que a árvore original muito provavelmente não está mais lá", contou ela à BBC.
As árvores clonais crescem em todas as direções e se regeneram ao longo do tempo. Isto significa que tirar o núcleo de um trono não dará a idade da colônia.
Cientistas tentam contornar o problema equiparando tamanho com idade. É um processo impreciso, por isso a estimativa da idade de Pando vai de poucos milhares de anos a 80 mil anos.
A professora Mock espera que uma nova técnica, de investigar quantas mutações de DNA são acumuladas ao longo do tempo, traga uma alternativa para definir a idade dessa árvore memorável.
Espécies longevasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAbutre-rei, pinheiro bristlecone e tartaruga gigante: outras espécies longevas
Se uma árvore pode viver 80 mil anos, por que parar aí? Há algum organismo imortal na Terra? Não, de acordo com o especialista em envelhecimento João Pedro de Magalhães, da Universidade de Liverpool.
"Todos os organismos podem morrer, então não há uma espécie imortal per se", diz.
"Mas você tem espécies vertebradas complexas que parecem não envelhecer, como as tartarugas das Ilhas de Galápagos (Equador) ou uma salamandra das cavernas chamada Olm. Eu digo 'parecem não envelhecer'; não estudamos nenhuma dessas espécies por 500 anos. Já é difícil conseguir financiamento para cinco anos de projeto", brinca.
O quanto você vive depende, em parte, do seu lugar no mundo; seu nicho ecológico. Os organismos no topo da cadeia alimentar têm poucos predadores, então têm mais chances de viver mais e passar essa característica para outras gerações.
Glass spongesDireito de imagemAWI/TOMAS LUNDALV
Image captionEsponjas-de-vidro têm uma existência tranquila nas águas geladas que cercam a Antártida
O clima frio também tem importância: as esponjas-de-vidro da Antártida, por exemplo, são consideradas os "animais vivos mais velhos" da Terra, com uma longevidade estimada em cerca de 15 mil anos.
"Não temos certeza disso", diz Magalhães, "porque, obviamente, ninguém estava lá para checá-las há 15 mil anos".
As estimativas são passíveis a erro, mas de acordo com Magalhães, as esponjas da Antártida crescem lentamente por causa do frio, e se encaixam no modelo de criaturas de crescimento lento com períodos de vida mais longos.
No entanto, o organismo vivo mais velho - segundo medições mais precisas - continua sendo o pinheiro bristlecone da Grande Bacia, na Califórnia, o Pinus longaeva. O Pando e as esponjas-de-vidro da Antártida podem ser mais velhos, mas suas idades foram estabelecidas por medições indiretas.
Para os especialistas, entretanto, há muito a ser descoberto nessa área, e é provável que o organismo mais velho do planeta sequer foi encontrado.
http://www.bbc.com/portuguese/geral-40258768# 

A necessidade econômica que levou ao desenvolvimento da primeira forma de escrita

Tábua com escritaDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionEsta tábua exibe, em escrita cuneiforme, um recibo sobre o comércio de bois
Durante muito tempo, pelo menos até meados do século 20, não se sabia ao certo por que as civilizações antigas tinham desenvolvido a escrita. Teria sido por razões artísticas ou religiosas? Ou talvez para permitir a comunicação com exércitos distantes?
Em 1929, o mistério cresceu ainda mais quando o arqueólogo alemão Julius Jordan desenterrou uma vasta biblioteca de tábuas de argila de cinco mil anos de idade.
Essas tábuas eram até mais antigas do que amostras descobertas na China, no Egito e na Mesopotâmia, e continham gravações em uma escrita abstrata, que depois ficaria conhecida como "cuneiforme".
As tábuas eram de Uruk, um vilarejo da Mesopotâmia nas margens do rio Eufrates - onde hoje fica o Iraque.
The archaeological site of Uruk (Warka), 30kms east of Samawa, on January 25, 2010Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs ruínas de Uruk e outras cidades da Mesopotâmia estavam repletas de pequenos objetos de barro misteriosos
Uruk era pequena para os padrões atuais, com apenas alguns milhares de habitantes, mas na época era enorme, uma das primeiras cidades do mundo.
"Ele construiu a muralha da cidade de 'Uruk', a cidade dos currais", proclama a Epopeia de Gilgamesh, uma das primeiras obras da literatura. "Olhe para sua muralha com seus frisos como bronze! Contemple seus bastiões, que ninguém pode fazer igual!"
Essa grande cidade criou uma escrita que por anos intrigou os estudiosos modernos. O que diziam aqueles traços abstratos?

Contagem por correspondência

As ruínas de Uruk e outras cidades mesopotâmicas estavam repletas de pequenos objetos de barro em formato de cone, esfera ou cilindro. Um arqueólogo chegou a brincar que pareciam supositórios.
Já Julius Jordan foi mais perceptivo e escreveu em um periódico que eram objetos com formas de "objetos do dia a dia - potes, pães e animais".
Mas para que serviam? Ninguém conseguia resolver o quebra-cabeça.
Pelo menos até a arqueóloga francesa Denise Schmandt-Besserat, que, nos anos 1970, catalogou peças semelhantes encontradas na região, desde a Turquia ao Paquistão, que chegavam a ter 9.000 anos de idade.
Schmandt-Besserat acreditava que os objetos tinham um propósito em comum: a contagem por correspondência. As peças com forma de pães seriam usadas para contar pães, as peças em forma de potes, para contar potes, e assim por diante.
A contagem por correspondência é simples: você não precisa saber contar, basta olhar para comparar duas quantidades e verificar se são ou não as mesmas.
O osso de IshangoDireito de imagemROYAL BELGIAN INSTITUTE OF NATURAL SCIENCES/THIER
Image captionO osso de Ishango, de 20 mil anos, parece mostrar riscos que correspondiam a marcas de contagem
A técnica é ainda mais antiga que Uruk. O osso de Ishango, de 20 mil anos, encontrado próximo a uma das nascentes do Nilo na República Democrática do Congo, parece usar marcas de contagem no osso da coxa de um babuíno.

Economia urbana

Mas as peças de Uruk foram mais longe: eram usadas para registrar a contagem de várias quantidades diferentes e podiam ser usadas tanto para adicionar quanto para subtrair.
É bom lembrar que Uruk era uma cidade grande. Havia clero e artesãos, e a comida era colhida no campo.
Uma economia urbana exige negociação, planejamento e tributação. Imagine os primeiros contadores do mundo, sentados na porta do armazém do templo, usando peças de pão para contar os sacos de grãos que chegavam e partiam.
tábua de escrita cuneiformeDireito de imagemALAMY
Image captionUma tábua de escrita cuneiforme encontrada em Uruk
Denise Schmandt-Besserat destacou outra característica revolucionária. As marcas abstratas nas tábuas cuneiformes combinavam com as peças. Outros especialistas que se debruçaram sobre elas não notaram isso porque a escrita não parecia representar imagens de algo conhecido.
Mas Schmandt-Besserat percebeu o que tinha acontecido ali. As tábuas eram usadas para registrar o vai e vem das peças que, por correspondência, marcavam o movimento de ovelhas, grãos e potes de mel.
Talvez as primeiras tábuas tivessem inclusive impressões gravadas pelas próprias peças - pressionadas contra o barro. Até os contadores perceberem que talvez fosse mais fácil fazer marcas com uma cunha, um antigo instrumento de inscrição em tábuas.
A escrita cuneiforme era, portanto, a imagem estilizada da impressão das peças que representavam determinadas commodities. Não é de se admirar que ninguém tivesse feito essa conexão antes de Schmandt-Besserat.

Equipamento de verificação

Ela resolveu dois problemas de uma só vez. As tábuas de barro adornadas com a primeira escrita abstrata do mundo não eram usadas para poesia ou para enviar mensagens a terras distantes. Elas foram usadas como um pioneiro sistema de contabilidade.
Também eram usadas como os primeiros contratos escritos do mundo - pela pequena distância entre um registro do que foi pago e de uma obrigação futura a ser paga.
Inscrições na bullaDireito de imagemALAMY
Image captionEstas 'bullas', descobertas no Iraque, registram transações da agricultura no 8º milênio a.C.
A combinação de peças e tábuas de escrita cuneiforme levou a um dispositivo brilhante: uma bola de argila oca chamada bulla.
As peças representando as obrigações de um acordo eram colocadas no interior da bulla, que era então selada. As inscrições das peças eram então gravadas na parte externa do artefato.
Acredita-se que as bullas eram espécies de contratos em envelopes antigos, que eram fechados por segurança para que os termos do acordo não fossem alterados. A escrita na parte de fora e as peças dentro da bola de argila deveriam ser iguais.
Não sabemos que tipo de acordo seriam - se eram dízimos religiosos para o templo, impostos ou dívidas privadas. Mas tais registros eram ordens de compra e recibos que tornavam possível a complexa vida da cidade.
A maioria das transações hoje é baseada em contratos escritos. Apólices de seguro, contas bancárias, títulos do governo, ações corporativas e hipotecas são acordos escritos - e as bullas da Mesopotâmia são a primeira prova arqueológica de contratos escritos.
Os contadores de Uruk nos deram ainda outra inovação. Inicialmente, para registrar cinco ovelhas bastava se gravar cinco símbolos de ovelhas. Mais tarde, um sistema mais avançado envolvia o uso de símbolos abstratos para diferentes números: cinco traços para o número cinco, um círculo para dez, dois círculos e três traços para 23.
Os números eram sempre usados para se referir à quantidade de algo: não havia "dez" - e sim "dez ovelhas". Mas o sistema numérico era forte o suficiente para expressar grandes quantidades - centenas ou milhares.
Uma demanda para reparações de guerra feita há de 4.400 anos exigia como pagamento cerca de 4,5 trilhões de litros de grãos de cevada. Era uma conta impagável - 600 vezes a produção anual americana de cevada hoje. Mas era um número impressionantemente grande. Foi também a primeira prova escrita do mundo dos juros compostos.
Como um todo, tratou-se de um conjunto de conquistas.
Os cidadãos de Uruk enfrentaram um enorme problema para qualquer economia moderna - como lidar com uma rede de obrigações e compromissos à distância entre pessoas que não se conheciam bem, que talvez nunca se conhecessem.
Resolver este problema significava produzir uma cadeia de brilhantes inovações: não apenas a primeira contabilidade e os primeiros contratos, mas a primeira matemática e também a primeira escrita - que foi, portanto, uma ferramenta desenvolvida por uma razão muito clara: gerenciar a economia.
http://www.bbc.com/portuguese/geral-40245708