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domingo, 24 de julho de 2016
A incrível história do adolescente que se alimentou só de tomate por 12 anos
22 julho 2016
Molho de tomate. Sopa de tomate. Compota de tomate. Feijão "entomatado". Pizza do tomate. Ketchup. E, claro, tomate ao natural.
Essa foi a dieta do britânico Liam Pierce por 12 anos.
"Havia coisas que não eram tomate, mas muito poucas coisas. E sempre com ketchup", disse Liam à BBC.
"Nada de frutas ou legumes (além do tomate)", disse o jovem.
Mas sua dieta peculiar não era apenas um capricho. Liam sofria de um distúrbio psiquiátrico.
"Minha sensação, quando pensava em comer outros alimentos, era a mesmo de uma pessoa com aracnofobia ao ver uma aranha. Era como sair da minha zona de conforto", disse Liam em uma entrevista de rádio a BBC.
Até 15 sabores
A doença de Liam é rara e pouco conhecida: "síndrome de alimentação seletiva" (também conhecido como SED ou ARFID, na sigla em inglês).
Trata-se, de acordo com especialistas, de uma neofobia alimentar (aversão a alimentos novos) que afeta principalmente as crianças e pode se estender até a adolescência.
O que é a síndrome de alimentação seletiva?
É uma fobia associada a certos alimentos e muitas vezes conhecida como "neofobia"
Não é simplesmente ser "exigente" com os alimentos (a maioria das crianças são)
Quanto mais tempo persiste, maior é a rejeição a certos alimentos
A principal consequência é a deficiência nutricional, o que pode prejudicar o desenvolvimento intelectual, o crescimento, as defesas e desempenho acadêmico, disse à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) Jesus Roman, presidente da Sociedade Espanhola de Dietética e Ciência dos Alimentos (SEDCA).
"A SED significa que você não tem mais de 15 sabores (registrados)", disse Liam.
"É muito difícil explicar, porque muita gente não conhece esse transtorno", acrescentou.
O caso de Liam não é único.
Um exemplo semelhante foi o da adolescente britânica Jennifer Radigan, que só comia batatas fritas e queijo e apareceu na imprensa em 2015.
"Isso me afeta todos os dias", queixou-se a jovem. "Não importa o quanto você quer comer outra coisa. Eu não posso."
Uma criança 'mimada'
Liam diz que quando leu na mídia sobre outros casos percebeu que poderia estar sofrendo da mesma coisa, e começou a pesquisar sobre o tema.
"Os médicos me disseram que eu era simplesmente uma criança mimada", diz Liam.
"Mas isso não é assim. É uma doença real. E é difícil explicar porque muitas pessoas não entendem."
Sua mãe, Helen, também teve problemas.
"Eu não conseguia entender por que meu filho não queria provar algo novo. Foi traumático para ele e para mim", disse Helen a BBC.
"Não era uma criança mimada. Era uma resposta fóbica", acrescentou Helen.
Alguns estudos norte-americanos encontraram milhares de casos que respondem aos critérios desse distúrbio alimentar.
E, de acordo com o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido, cerca de 12% das crianças de três anos de idade sofrem de forma persistente deste distúrbio e são extremamente exigentes com a comida, mas menos de 1% o desenvolve na idade adulta.
De acordo com a Revista Britânica de Psicologia Infantil Clínica e Psiquiátrica, a síndrome de alimentação seletiva é "um fenômeno muito pouco estudado que pode resultar em isolamento social, ansiedade e conflito."
Final feliz
Por sorte, a história de Liam tem um final feliz.
Duas semanas atrás, ele começou a incluir novos alimentos em sua dieta.
E a mudança, diz ele, se deve a terapia de hipnose.
"Nas últimas semanas eu tentei mais de 50 novas coisas", disse Liam.
"É libertador saber que venceu o distúrbio e ver que está interessado na comida, em provar novos alimentos. Mudou nossa vida", disse sua mãe.
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36863389
Transmissão de Zika por pernilongo comum pode implicar 'mudança radical' em medidas de controle, diz pesquisadora
Camilla CostaDa BBC Brasil em São Paulo
Há 5 horas
A bióloga Constância Ayres, da Fiocruz Pernambuco, fez uma descoberta inédita que tem o potencial de proporcionar um salto no conhecimento dos cientistas sobre o vírus Zika, e mudar radicalmente a estratégia brasileira de prevenção dele.
Ayres conseguiu encontrar, pela primeira vez, pernilongos carregando o vírus na natureza.
Na quinta-feira, a Fiocruz anunciou oficialmente que o mosquito Culex quinquefasciatus, conhecido como muriçoca ou pernilongo doméstico, também pode transmitir o vírus que causa microcefalia e malformações em bebês.
Até então, cientistas acreditavam que o mosquito Aedes aegypti era o principal vetor do vírus no Brasil. Agora, de acordo com Ayres, os cientistas precisam determinar qual das duas espécies é a mais importante na epidemia de Zika no Brasil.
Durante o anúncio, a Fiocruz afirmou que, até que se compreenda a importância do pernilongo na epidemia, a política de controle da Zika continuará focada noAedes aegypti.
Mas dependendo dos resultados, seria necessária uma "mudança radical" na atual estratégia atual de controle da epidemia, afirma a pesquisadora.
"Não existem estratégias de controle do Culex no Brasil. Isso vai ter de mudar radicalmente", diz.
Em entrevista à BBC Brasil, Ayres esclareceu a dúvidas sobre o andamento da pesquisa e as implicações de sua descoberta.
1. Como determinou-se que o pernilongo pode transmitir o vírus Zika?
A pesquisa analisou 500 pernilongos capturados na Região Metropolitana do Recife. Eles foram obtidos em locais onde havia casos notificados de Zika, segundo Ayres, para aumentar a possibilidade de se encontrar o vírus no ambiente.
Os pernilongos foram divididos em 80 grupos, e o vírus foi encontrado em três deles. Em dois destes grupos, de acordo com a Fiocruz, os mosquitos não estavam alimentados. Isso demonstra "que o vírus estava disseminado no organismo do inseto e não (foi contraído) em uma alimentação recente num hospedeiro infectado".
No laboratório, a equipe de Ayres alimentou os mosquitos com uma mistura de sangue e vírus, para entender como o Zika se replica dentro dos insetos.
Em seguida, os pesquisadores investigaram o intestino e a glândula salivar dos mosquitos. Se o pernilongo não fosse vetor, seu intestino bloquearia o desenvolvimento do vírus dentro do organismo.
Mas, se o vírus conseguisse se replicar, ele chegaria até a glândula salivar doCulex e poderia ser transmitido para humanos durante a picada.
Dessa forma, a equipe de Ayres confirmou que o Culex pode carregar o vírus em seu organismo. Amostras da saliva dos pernilongos infectados foram analisadas, e continham quantidades de vírus semelhantes às encontradas na saliva do Aedes aegypti.
Segundo Ayres, outra descoberta da Fiocruz Pernambuco dá força à hipótese: um grupo de pesquisa percebeu que a distribuição geográfica da filariose (elefantíase) e do Zika vírus em Recife é muito semelhante.
Em Recife, o Culex quinquefasciatus é o único mosquito que transmite o parasita que causa a elefantíase. "Somos a única área do Brasil endêmica para essa doença", explica a bióloga.
"Cerca de 85% das mães que tiveram bebês com microcefalia por causa do Zika estão em áreas muito precárias, sem saneamento básico, onde ocorre mais a filariose. Isso pode explicar a participação do Culex na transmissão da Zika e dar suporte à nossa hipótese."
"O Aedes aegypti, por outro lado, está mais distribuído na cidade. Vemos que a dengue é uma doença bem democrática, não está só em áreas precárias", afirma.
2. O pernilongo também pode ser vetor de tranmissão de dengue e chikungunya?
De acordo com a Fiocruz, a pesquisa deu prioridade ao vírus Zika por causa da epidemia da doença no Brasil e sua ligação com a microcefalia.
Apesar da epidemia de chikungunya, que também atinge principalmente Estados do Nordeste, ainda não se sabe se esta doença também pode ser transmitida peloCulex.
Ayres afirma que o vírus da dengue já foi encontrado em pernilongos coletados em campo, mas ainda não se confirmou se ele pode ser seu vetor.
3. Se o pernilongo for o principal transmissor, qual seria o impacto desta descoberta?
Para Ayres, isso significaria a necessidade de alterar a estratégia atual de controle da epidemia de Zika, completamente focada no controle da população do Aedes aegypti.
"Não existem estratégias de controle do Culex no Brasil. Isso vai ter de mudar radicalmente, e é por isso que as autoridades exigem muita cautela e mais comprovação. É natural que seja assim", diz.
O pernilongo tem hábitos diferentes do Aedes aegypti. É mais ativo à noite, por exemplo, o que tornaria importante a proteção com repelentes e roupas compridas também neste horário, especialmente para gestantes.
Ele também prefere colocar seus ovos em locais extremamente poluídos como esgotos, fossas e canaletas, o que, segundo a pesquisadora, tornaria as medidas de saneamento básico ainda mais "urgentes" para evitar novos casos de Zika e microcefalia em bairros mais precários.
"O saneamento básico não erradicará o mosquito, mas vai ajudar no seu controle populacional. As medidas de saneamento ajudam a manter o mosquito em um nível no qual não teremos grande epidemia, apenas casos esporádicos da doença."
4. Quais são os próximos passos da pesquisa?
Segundo Ayres, sua equipe agora investigará qual é exatamente a capacidade vetorial do Culex, ou seja, quão eficiente ele é para carregar e transmitir o vírus.
"Já sabemos que a taxa de infecção natural do Culex é semelhante à do Aedes aegypti, mas isso envolve outros aspectos biológicos do mosquito na natureza: o tamanho da sua população, a longevidade dessas espécies, o número de picadas que dão no homem, se preferem se alimentar do sangue humano ou não", afirma.
"Quando tivermos essas informações, poderemos saber qual das duas espécies tem maior importância na transmissão do Zika."
De acordo com a bióloga, a população de pernilongo em Recife é 20 vezes maior que a do Aedes aegypti. Mas, apesar desta vantagem populacional do Culex, oAedes pica mais vezes uma pessoa para se alimentar.
É necessário entender, por exemplo, se picar várias vezes faz do Aedes vetor mais competente de transmissão do vírus.
A equipe pernambucana também investiga a possibilidade de a fêmea do pernilongo transmitir o vírus para sua prole ainda nos ovos.
"Coletamos os ovos dos mosquitos infectados, as larvas eclodiram, deixamos crescer até virarem adultos e congelamos o material. Vamos analisá-lo", explica Ayres.
"Se conseguirmos detectar o Zika, significa que eles contraíram o vírus da mãe. Isso tem importância epidemiológica, porque é mais uma forma de o vírus se manter presente na natureza. Ele poderia permanecer no ambiente sem necessariamente ter de passar por humanos."
No ciclo de transmissão de doenças como o Zika, o Aedes aegypti pica uma pessoa doente, se infecta e leva o vírus para outras pessoas. Ele não transmite o Zika, até onde se sabe, a seus ovos.
5. A descoberta do Culex como vetor do Zika é preocupante para outros países do mundo?
De acordo com a bióloga, o Culex quinquefasciatus está presente em todas as áreas urbanas de regiões tropicais, subtropicais e temperadas - de clima mais frio, como países do Norte da Europa, Canadá e Austrália. Já o Aedes aegypti fica restrito às regiões tropicais e subtropicais.
Ela esclarece, no entanto, que mostrar a capacidade do Culex de transmitir Zika no Brasil não significa que o mesmo ocorreria, por exemplo, nos Estados Unidos.
"Existe a possibilidade, mas cada população deve ser investigada, principalmente porque o Culex quinquefasciatus, que é o que temos no Brasil, é parte de um complexo de espécies", diz.
"Nos Estados Unidos existem outras subformas dessa espécie de mosquito. E não sabemos ainda se a competência vetorial de todas as espécies é a mesma."
*Colaborou Gabriela Belém, de Recife para a BBC Brasil
quarta-feira, 6 de julho de 2016
06/07/2016 12h23 - Atualizado em 06/07/2016 12h24
Algas 'guacamole' obrigam Flórida a declarar estado de emergência
Aspecto e mau cheiro da água afetam turismo, economia, saúde e ecossistemas da região.
Da BBC
Algas se reproduziram devido a despejo de água com 'excesso de nutrientes' em rio (Foto: AP)
O paraíso com sol e praia que os moradores e turistas da costa leste da Flórida (EUA) normalmente aproveitam no verão foi invadido por uma massa verde viscosa e com um cheiro horrível.
A proliferação de algas tóxicas, que por seu aspecto foram batizadas de "guacamole", está prejudicando a economia local.
O governador Rick Scott declarou estado de emergência para quatro condados que dependem fortemente do turismo.
Estas algas, além disso, têm o potencial de destruir os ecossistemas da região, como explica o pesquisador Henry Briceño, da Universidade Internacional da Flórida.
"É um espetáculo dantesco. As águas nos canais e rios têm um tapete verde, um limo cinzento e um cheiro de amônia", descreve Briceño à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
As algas "guacamole" afetam desde o estuário do rio St. Lucie - onde há hotéis, residências privadas e clubes de iates - à lagoa Indian River, que abarca as localidades de Stuart, Port St. Lucie e Fort Pierce, e a parte das famosas praias de Palm Beach.
Outros quatro condados foram obrigados a fechar praias e viram uma enorme queda na chegada de turistas nos últimos dias.
"Isso destruiu nossa economia local e nosso modo de vida. Nossos cidadãos estão demandando ação rápida", disse a representante local Sarah Heard, do condado de Martin.
E como chegou-se a esta situação?
Algas A "guacamole" é um tipo promitivo de alga, uma cianobactéria, microoganismo fotossintético de aspecto verde-azulado e viscoso, que se multiplicou nestes quatros condados, principalmente na água doce, mas, em menor medida, na água salgada.
Em qualquer corpo de água do mundo existem algas, mas a reprodução deste microorganismo neste caso foi fora do comum.
Isso se deve ao fato de que uma represa no lago Okeechobee, a oeste de West Palm Beach, estava liberando, até 1º de julho, cerca de 85 metros cúbicos de água por segundo, informou o Corpo de Engenheiros do Exército americano.
"Essas águas têm altos conteúdos de nutrientes, especialmente fósforo e nitrogênio, e isso faz disparar a floração das algas", explica Henry Briceño.
Concentração de algas se dá principalmente onde há pouca circulação de água, perto de resorts e casas de praia (Foto: AP)
"As algas estão ali em concentrações muito pequenas, mas quando chega esse excesso de comida, de boa qualidade, a multiplicação dispara e ocorre muito rapidamente."
A liberação controlada de água ocorreu porque o lago Okeechobee, o maior corpo de água da região, alcançou antes do início das chuvas, 4,5 metros de altura - e seu limite é 5,4 metros.
"Depois de ver as algas, nos sentimos obrigados a tomar medidas. Mas temos que permanecer vigilantes na gestão do nível do Lago Okeechobee", disse o coronel Jason Kirk, do Corpo de Engenheiros.
Esta semana o fluxo de água foi diminuído de 85 para 33 metros cúbicos por segundo.
Potencial mortal As "guacamoles" só puderam se reproduzir deste jeito por causa da água da represa e seu conteúdo excepcional de fósforo e nitrogênio - devido aos restos de fertilizantes da indústria agrícola regional, e em menor medida pelos químicos usados para a manutenção da grama nos campos de golf.
"Muitos desses nutrientes não são utilizados pelas plantas e todo esse excesso termina arrastado pelas águas da chuva para os rios e terminam no lago", disse Briceño.
Essas algas também devem causar problemas para a fauna e flora local.
"Elas vão apodrecer e vão tapar toda a fauna e flora que há no fundo destas baías. (...) Se este efeito continuar, chegará um momento em que as destruirão totalmente", explica Briceño.
Foi o que ocorreu na baía de Chesapeake, no noroeste dos EUA, que na década de 1970, quando os baixos níveis de oxigênio na água provocaram a morte de milhares de peixes.
Que fazer? O condado de St. Lucie lançou uma advertência para que os habitantes e turistas das zonas afetadas evitem qualquer contato com as citobactérias devido a seus efeitos para a saúde humana.
Suas toxinas podem afetar o fígado, o sistema nervoso e a pele. Ingerir a água contaminada pode causar dor abdominal, náuseas, diarreia e vômito.
Também não se pode consumir peixe das áreas afetadas e de seus arredores.
Mas o lago Okeechobee continuará desaguando no rio St. Lucie enquanto continuar chovendo. Por isso, uma solução seria elevar sua capacidade com o dique que o contém ou levar a água até o Golfo do México.
"Não podemos perder de vista a necessidade de que o governo federal inicie de imediato as reparações do dique Herbert Hoover para que possa ser alcançada uma solução de longo prazo", disse o governador da Flórida, Rick Scott.
O dique tem 80 anos e enfrenta problemas estruturais que geraram infiltrações e uma capacidade limitada.
Briceño recomenda "reduzir a quantidade de água enviada e pensar se é possível armazenar água nos lagos ao norte de forma temporal" .