domingo, 12 de junho de 2016

'Como redescobri, sem querer, pássaro de olhos azuis desaparecido no Brasil havia 75 anos'

  • 9 junho 2016
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Rolinha-do-planaltoImage copyrightRAFAEL BESSA
Image captionEspécie considerada extinta por cientistas foi avistada no interior de Minas Gerais
Uma espécie rara de ave que cientistas consideravam extinta foi redescoberta graças a um encontro fortuito entre um ornitólogo brasileiro e o pássaro no interior de Minas Gerais.
Há 75 anos, a ave não era avistada na natureza. Desde 1941, a Columbina cyanopis, ou rolinha-do-planalto, como é chamada no Brasil, só podia ser apreciada por meio de espécimes preservadas em museus.
Isso começou a mudar depois de um lance de sorte vivido pelo ornitólogo Rafael Bessa, que, em julho de 2015, estava em uma região do interior mineiro (que está sendo mantida em segredo por razões explicadas mais abaixo) para fazer um estudo para licenciamento ambiental.
O pesquisador havia decidido pegar um atalho no caminho entre seu hotel e o local onde realizaria seu trabalho. Na rota, decidiu parar em um certo ponto para apreciar e fotografar a vista. Foi quando ouviu sons de um animal que não reconheceu.
Bessa voltou ao local no dia seguinte para registrar o canto do animal e, ao reproduzir a gravação, atraiu em sua direção um pássaro, que pousou em um arbusto a alguns metros de distância.
"Olhei pelo binóculo, e minhas pernas começaram a tremer. Sabia que tinha um verdadeiro fantasma na minha frente. Foi um momento de muita emoção, indescritível. Estava muito feliz e nervoso ao mesmo tempo", diz Bessa.
"Só pensava em documentar e aproveitar o momento. Até então, não sabíamos absolutamente nada sobre a espécie, e aqueles poucos minutos de observação poderiam significar muito para a conservação da rolinha."

Raridade

Rolinha-do-planaltoImage copyrightRAFAEL BESSA
Image captionPesquisadores já identificaram 12 rolinhas-do-planalto
Bessa explica que a rolinha-do-planalto sempre foi considerada uma espécie rara e dificilmente era avistada mesmo quando seu habitat, o cerrado brasileiro, ainda era bastante preservado, até meados da década de 1950.
"Até então, não se entendia o por quê dessa raridade, e o pouco que sabemos hoje não nos permite ter certeza do motivo, mas acreditamos que a espécie ocorre em uma fisionomia de cerrado muito específica e também rara", diz o ornitólogo.
"Soma-se a isto o fato do cerrado ser um dos ecossistemas brasileiros que mais perdeu área para a agricultura e pecuária nas últimas décadas, fato que certamente contribuiu para sua atual raridade."
Rolinha-do-planaltoImage copyrightRAFAEL BESSA
Image captionAve tem plumas castanhas com manchas azuis nas asas e olhos também azulados
Desde que o primeiro exemplar foi identificado por Bessa, 12 rolinhas-do-planalto foram ao todo avistadas por pesquisadores, com o apoio da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), o Observatório de Aves do Instituto Butantan e a ONG Rainforest Trust.
A ave possui uma plumagem de coloração predominantemente castanho-avermelhada e é bem menor do que outras rolinhas. A espécie ainda chama atenção por seus olhos azulados e manchas da mesma cor nas asas.

Conservação

Agora, cientistas trabalham para traçar planos de conservação da espécie, o que implica em proteger a área onde foi encontrada, além de compreender suas características e o que necessita para sobreviver.
Até que o plano seja concluído, o local onde os espécimes foram achados e seu canto não serão divulgados, para evitar um grande fluxo de observadores de pássaros para a região, o que poderia afugentar o animal.
"No momento, sabemos da existência de 12 exemplares, o que é um número muito baixo para garantir a conservação de qualquer espécie. Já realizamos expedições em busca de novas populações, mas até o momento não obtivemos êxito", afirma Bessa.
Rolinha-do-planaltoImage copyrightRAFAEL BESSA
Image captionCientistas estão criando um plano de conservação da espécie e proteger seu habitat
O ornitólogo diz que a redescoberta da Columbina cyanopis em uma área remota do Brasil, em meio a um ambiente frágil e raro, serve como um "exemplo de como conhecemos pouco sobre nossa biodiversidade".
"Existem ainda pelo menos uma dezena de espécies que estão desaparecidas há mais de dez anos e que correm o risco de serem extintas em um curto espaço de tempo", afirma Bessa.
Ele faz críticas ao que considera uma tentativa de fragilizar a legislação ambiental do país para favorecer a criação de empreendimentos comerciais.
"Um empreendimento de pequeno porte na área onde vive a rolinha seria suficiente para destruir o ambiente onde encontram-se os únicos 12 indivíduos que temos notícia dessa espécie nos últimos 75 anos", afirma Bessa.
"Garantir a conservação da Columbina nessa área especial ajudará não só a rolinha-do-planalto, mas também muitas outras espécies de animais ameaçadas de extinção que ocorrem em seu ambiente."
* Com reportagem de Alejandra Martins, da BBC Mundo em Londres

Celia, a menina que deu nome à doença que atingiu apenas 6 pessoas no mundo

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Arquivo Pessoal da família de CeliaImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionQuando Celia nasceu, em 2004, parecia uma criança saudável
Quando Celia nasceu, em fevereiro de 2014, parecia um bebê normal.
Seu caso foi um mistério durante muito tempo, e a doença que lhe acometia só foi descoberta depois de sua morte.
Os médicos batizaram o mal de "encefalopatia de Celia", uma enfermidade que até agora só foi detectada em seis pessoas no mundo, todas na região de Murcia, no sudeste da Espanha ─ a mesma da criança.
E apenas um dos pacientes diagnosticados com a doença ainda está vivo: uma menina de oito anos de idade.

Sorriso

Celia nasceu em Totana, uma pequena cidade ao sudeste da Espanha. Apesar de ter tido problemas de alimentação logo depois de nascer, os pais e os médicos da menina não notaram nada de mais preocupante com ela.
"Sempre olhava para a câmera e sorria. Nunca suspeitamos que tivesse algum atraso mental", disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, a mãe de Celia, Naca Pérez de Tudela.
Arquivo Pessoal da família de CeliaImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionCelia começou a perder habilidades que tinha adquirido por volta dos três anos
Mas, quando Celia estava prestes a completar um ano, os pais notaram uma parada em seu desenvolvimento.
Aos 16 meses ela começou a andar, mas seus passos não eram estáveis. Nunca chegou a articular frases além das palavras mais básicas, como "mamãe", "papai" ou "água".
Depois de exames genéticos, uma médica no Hospital da Virgen de Arrixaca de Murcia diagnosticou que menina, à época com menos de dois anos, com lipodistrofia congênita de Berardinelli (também conhecida como "Síndrome de Berardinelli-Seip").
Mas os sintomas de Celia não eram iguais aos da doença, o que intrigou David Araújo-Vilar, médico do Hospital Clínico Universitário de Santiago de Compostela. Ele passou, então, a buscar mais detalhes sobre o caso de Celia.
"Quando conheci Celia, em 2008, estava convencido de que o diagnóstico não estava certo", afirmou Araújo-Vilar.
A aparência da menina não coincidia com os casos de lipodistrofia de Beradinelli. Seu problema estava no cérebro ─ havia "sinais evidentes de uma encefalopatia grave e progressiva", como contou o médico.
Aos três anos, a saúde de Celia começou a se deteriorar rapidamente.
"Pouco antes, fomos passar férias pela primeira vez na praia. Estávamos começando a ver os frutos de nosso trabalho", lembrou a mãe.
Os pais lutavam noite e dia pela filha, sem entender o que estava acontecendo. "Todo mundo te fala o que você tem que fazer, mesmo que você não pergunte", disse Nica.

Esquecimento

Foto de arquivo pessoal da família de CeliaImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionPais fundaram associação para apoio de famílias de pessoas com doenças raras
Durante as férias, os pais notaram que Celia parecia "esquecer" tudo o que havia aprendido até aquele momento.
E tudo foi acontecendo muito rápido. Na mesma época, ela parou de dormir durante a noite. Depois, começou a sofrer quedas, sempre para frente, o que a levava a bater a cabeça. Além disso, passou a ficar com o olhar perdido. Aos quatro anos, a menina já não conseguia mais caminhar.
Araújo-Vilar começou a pesquisar o caso, que parecia intrigante: Celia tinha a mutação genética que causa a lipodistrofia de Berardinelli, mas os sintomas não coincidiam.
A médica Encarna Guillén, que deu o primeiro diagnóstico à família, pediu ao colega que fizesse o diagnóstico em outro caso, em 2009. Uma menina de Mula, também na região de Murcia, também tinha sinais de lipodistrofia.
Eles descobriram que a criança tinha a mesma mutação de Celia, mas, diferentemente dela, apresentava os sintomas típicos da lipodistrofia de Berardinelli.
Além disso, dois familiares dessa menina tinham morrido havia mais de 20 anos devido à doença, e seus pais apresentavam a mesma mutação.
"Todos tinham a mesma mutação, mas não conhecíamos o mecanismo que produzia o dano no cérebro", disse Araújo-Vilar.

Artigo

Foto de arquivo pessoal da família de CeliaImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image captionCelia morreu aos oito anos
Celia morreu em 2012, aos oito anos. No mesmo dia, os pais da menina chamaram Araújo-Vilar.
"Sempre vou me lembrar daquele dia. Estava com meu carro no meu consultório, me ligaram para dar a notícia e oferecer amostras dos tecidos dela", disse o médico. Ele tinha jantado com na casa da família apenas cinco dias antes.
O gesto dos pais comoveu o médico. "Só pessoas muito especiais podem fazer isso", afirmou.
Em 2013, Araújo-Vilar publicou o primeiro artigo científico a respeito do caso na revista científica Journal of Medical Genetics. No artigo, ele batizou a doença como encefalopatia de Celia.
Agora, os médicos sabem que essa encefalopatia e a lipodistrofia de Berardinelli estão relacionadas.
"A encefalopatia de Celia é um subtipo da distrofia de Berardinelli", afirmou a mãe da menina, que hoje preside a Associação de Familiares de Afetados por Lipodistrofias (Aelip). Seu marido, Juan Carrión, preside a Federação Espanhola de Doenças Raras.
Os pesquisadores realizaram mais exames genéticos e estimam que existam 123 portadores saudáveis do gene com mutação, todos na cidade de Totana. "É uma prevalência muito alta em termos de doenças raras", disse o médico.
Araújo-Vilar calcula que podem aparecer outros três novos casos nos próximos dez anos.
O médico não sabe exatamente a razão de os casos de encefalopatia de Celia terem aparecido apenas em Murcia, mas disse acreditar que podem estar relacionados à endogamia (casamento entre pessoas do mesmo grupo social ou com algum grau de parentesco).
Os pais de Celia esperam que todo o esforço ajude a manter viva a outra menina diagnosticada com a doença, que está passando por um novo tratamento.
"Pelo menos a família (da criança), que vive a 40 quilômetros daqui, tem um caminho certo. Para nós, é uma forma de ter Celia presente", afirmou a mãe.

sábado, 4 de junho de 2016


04/06/2016 16h02 - Atualizado em 04/06/2016 16h02

Nova espécie rara de lagarto é achada em floresta remota no Amapá

‘Bachia remota’ foi encontrado em 2004 e reconhecido em maio deste ano.
Réptil tem 'dedos' mais funcionais e escama que o diferencia de espécies.

Fabiana FigueiredoDo G1 AP

Espécie de lagarto foi encontrado na região Amazônica (Foto: Divulgação)Espécie de lagarto foi encontrada na região Amazônica (Foto: Divulgação)
Uma nova espécie de lagarto, considerada rara, foi descoberta por pesquisadores do Amapá e Pará. O animal, nomeado de Bachia remota, foi encontrado em um lugar de difícil acesso na floresta Amazônia, numa área localizada dentro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, ao Oeste do Amapá.
De acordo com o pesquisador amapaense Jucivaldo Lima, a pesquisa precisou investigar apenas um exemplar do réptil, que foi suficiente para identificar as diferenças entre as espécies já descobertas.
“É um bicho bem diferente. Geralmente os animais do grupo dele têm mãos pequenas, membros reduzidos, que conseguem viver por debaixo da mata, chamados de semi-fossorial. Identificamos que esse tem dedinhos mais funcionais que os outros da espécie dele e tem uma escama diferente”, descreveu Lima.
Jucivaldo Lima, pesquisador, Hypsiboas diabolicus, perereca, espécie, Amapá, Guiana Francesa, Iepa, (Foto: Fabiana Figueiredo/G1)Pesquisador Jucivaldo Lima encontrou espécie em
expedição ao Jari (Foto: Fabiana Figueiredo/G1)
O pesquisador contou que a espécie foi localizada durante uma expedição realizada por acadêmicos até o Tumucumaque, com o apoio do helicóptero do Exército Brasileiro para acesso ao local remoto. O réptil foi encontrado apenas dentro do parque, localizado na região Oeste do estado, no município de Laranjal do Jari, a 265 quilômetros de Macapá.
A viagem chegou a ser documentada à época pelo programa Globo Repórter, da Rede Globo, em 2005. Jucivaldo contou que não voltou mais à região porque é um lugar difícil de chegar.






“A gente já suspeitava que fosse uma espécie nova. Deixamos o animal meio que de ‘stand by’, porque era o único exemplar que coletamos. Em 2014, um pesquisador especialista em lagartos fez uma amostragem de espécies pela Amazônia e começamos a iniciar a descrição do bicho”, comentou Lima.
A pesquisa também envolveu os pesquisadores Marco Ribeiro Júnior e Marcélia da Silva, do Museu Paraense Emílio Goeldi. O estudo sobre a nova espécie foi reconhecido após a publicação na revista Herpetologica, em maio deste ano, especializada em répteis.
Uma nova espécie de perereca também foi descoberta no Amapá recentemente. O estudo iniciou em 2011 e o animal foi reconhecido em março, como Hypsiboas diabolicus, estudado pelo pesquisador amapaense em parceria com estudiosos da Guiana Francesa.
Globo Repórter - Expedição Tumucumaque (Foto: rede globo)Réptil foi encontrado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá (Foto: Rede Globo)